Embora não tenha sido o nome inicialmente ventilado para o papel central de A Condenação (projeto que levou quase dez anos para se concretizar), Hilary Swank acabou sendo também produtora deste filme, o que deve ter acentuado seu jeitão de parecer (em parte) veículo para sua imagem de atriz que encarna mulheres sofridas e obstinadas em seus projetos, lutando contra todas adversidades por uma causa justa. Isso não deve ser suficiente para ajudar os pedidos públicos de desculpas por sua participação (remunerada) em festança para um governante checheno acusado de desrespeitar direitos humanos, desaparecimentos de pessoas, incêndios de lares e assassinatos. Até porque o filme teve lançamento nos Estados Unidos em 2010, muito antes desse passo em falso da atriz vir à tona. Seu enredo aborda fatos reais de outra ordem que já renderiam um ótimo drama. O problema é que impressionantes histórias reais vêm sendo adaptadas pelo cinema de modo excessivamente melodramático, como se fosse necessário tornar os fatos mais mobilizantes do que são. Como se tudo precisasse ficar bem óbvio no roteiro e nas imagens para o filme dar seu recado “bem dado”.
A situação básica de A Condenação pode lembrar algo da tragédia de Antígona em luta pelo direito natural ultrapassar leis estabelecidas pela sociedade com suas falhas. Neste caso, o irmão que Betty Anne Waters precisa defender não está morto e ela não quer apenas o direito de enterrar seu corpo como na peça de Sófocles, mas Kenny, o irmão de Betty Anne, encontra-se encerrado em uma prisão, condenado a pena perpétua, ainda que seja inocente do crime pelo qual foi acusado.
Injustiças propiciadas pelos dispositivos legais e solidariedade para com os injustiçados já são suficientes para cativar platéias e até mesmo arrancar sinceras e pertinentes lágrimas. Pena que o roteiro em que Pamela Gray trabalhou durante oito anos insista em melodramatizar tudo, arriscando-se à proximidade com os enredos de antigos dramalhões carcerários usados em vetustas novelas de rádio e filmes mexicanos de mais de meio século atrás.
O diretor (e também ator) Tony Goldwyn, neto do lendário produtor Samuel Goldwin, é mais assíduo em séries de TV, e volta às telas de cinema (onde estreou em 1999 sem nenhum destaque). Após muitos anos de telinha, voltou com pegada eficiente mas muito submisso ao texto que ele enfatiza em imagens comoventes dos personagens centrais, irmão e irmã (quando crianças, em flash-backs). Sempre que o roteiro pede mais “emoção” ele atende em imagens. Não exibe um mau artesanato, mas há uma questão mais ampla de concepção baseada em sublinhar tudo e tornar tudo bem óbvio.
A coisa não degringola, em grande parte, com a ajuda de desempenhos mais contidos de quase todo o elenco. Não que Sam Rockwell esteja exatamente contido, pelo contrário, ele até incorre em alguns momentos de overacting, mas mesmo nisso ele é bom. Seu personagem pode ter momentos simpáticos, mas também é explosivo e debochado, propiciando ser tomado como um “suspeito habitual” para ocorrências policiais. Em uma delas, a gravidade será maior. Juliette Lewis, cuja carreira se tornou inexpressiva, reaparece bem em suas duas únicas cenas. Minnie Drive é outra atriz cuja carreira vem sendo aquém do seu talento e reaparece em uma personagem simpática. Melissa Leo não tem muito a fazer desta vez. E Hilary Swank é a Hilary Swank de quase sempre correta, mas excessivamente central (aliás, o título original do filme é Conviction como consta na internet ou Betty Anne Waters, nome da personagem de Hilary, na cópia exibida para a crítica?)
Cabe destacar que os atores aceitaram trabalhar por salários abaixo do que recebem habitualmente para chamar a atenção de novas tecnologias que servem às investigações criminais e que podem inocentar pessoas condenadas. (Até recentemente 17 presos do "corredor da morte" tiveram suas sentenças modificadas pela revisão de processos e justificadas pelo uso de técnicas que não existiam anteriormente, mais acuradas).
O brasileiro Adriano Goldman é o diretor de fotografia (ele fez a fotografia de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, da nova versão de Jane Eyre com Mia Wasikowska e agora está filmando com Robert Redford) e a edição é de Jay Cassidy (Na Natureza Selvagem). Eles colaboram para o resultado mais eficiente do filme que quase estraga uma história forte ao sublinhar demais os lances emocionais. Sem ser um libelo explícito contra a pena de morte, o filme denuncia os antigos recursos técnicos que eram utilizados para condenar pessoas e que vêm sendo questionados por recursos mais modernos da tecnologia – e só isso já vale o enredo baseado na realidade.