Almodóvar sempre alimentou em seu público a expectativa de originalidade a cada novo filme. Parece mesmo que se obriga a isso como cobrança. Pena que, por um lado, possa incorrer eventualmente mais na bizarrice do que na originalidade almejada, caso deste A Pele que habito. E que por outro lado, formalmente, repita os mesmos truques de roteiro procurando causar:
a) perplexidade no início (em grande parte por omitir, como em histórias policiais, explicações de como as coisas chegaram àquele – estranho - ponto na vida de seus personagens);
b) entendimento a partir de flash backs onde revela o que omitira, o que aconteceu “antes”;
c) conclusão (não necessariamente “resolução”) em uma espécie de “terceiro ato de roteiro” (“atos” como rezam os manuais caretas de roteiros).
Essa estrutura vem se repetindo e ficando mais evidente quando seus filmes são menos bem-sucedidos como Abraços Partidos, Má educação e especialmente nesta obra mais recente, a mais insatisfatória desde Kika (que já o levara a um ponto de exageros a partir do qual ele deu meia-volta para A Flor do meu Segredo e chegou à obra-prima Carne Trêmula).
Os exageros fazem parte das criações de Almodóvar, evidentes desde sua “primeira fase” menos polida, onde até as bobagens gratuitas de Maus Hábitos eram mais toleráveis pelo humor e irreverência. Sem maior inspiração para o humor em A Pele que habito, o que bate na tela fica como um excesso bizarro em tons mais sombrios e desequilibrados, sem o nonsense do deboche. O excesso do personagem de Antonio Banderas lembra a hybris (desmesura), a falha trágica dos gregos - mas se há alusão, não há discussão de temas ligados à bioética que remontam a Frankenstein (e Banderas, graças a uma iluminação azulada, de baixo para cima em um plano fechado de seu rosto pode lembrar Boris Karloff - mas como “cientista louco”). As alusões servem apenas ao enredo descabelado com sub-plots excessivos (o personagem fantasiado de tigre) que nem semrpe se articulam bem no geral.
Se a pele é órgão continente do corpo, dessa vez Almodóvar não coube em sua própria pele e transborda como excesso.