Críticas


XINGU

De: CAO HAMBURGER
Com: JOÃO MIGUEL, FELIPE CAMARGO, CAIO BLAT
02.05.2012
Por Daniel Schenker
JORNADA EXPOSTA COM CLAREZA EXEMPLAR

Nos últimos tempos, muitos diretores têm realizado documentários centrados na questão indígena. Os enfoques, apesar de diferenciados, se encontram na oportuna denúncia da via-crúcis enfrentada pelos índios ao longo dos anos, frequentemente expulsos da terra onde vivem ou dizimados. Cao Hamburger também se debruça sobre esse universo em Xingu , ficção escorada nos feitos dos irmãos Villas Bôas – Orlando, Claudio e Leonardo.



Apesar de evocar décadas anteriores – o início da empreitada dos irmãos, nos anos 40, movidos pelo espírito de aventura, e, em especial, a criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961 –, o diretor evidencia como questões do passado permanecem atuais. Vários tópicos delicados são destacados ao longo da projeção, a exemplo do problemático contato com os brancos, seja por estes imporem um sistema de exploração, seja por transmitirem vírus em relação aos quais os corpos dos índios não tinham mecanismos de defesa adequados; e da percepção de que o progresso não favorece os índios, a julgar pelos esforços dos irmãos em mantê-los salvaguardados numa região isolada, protegidos da interferência, muitas vezes mal-intencionada, dos brancos.



Hamburger apresenta um painel do convívio entre os irmãos Villas Bôas e os índios: a chegada deles a uma região desconhecida, o entrosamento entre ambas as partes, a sucessão de mortes dentro da tribo pelo vírus da gripe, o vínculo entre Leonardo e uma índia, as divergências entre Orlando e Claudio, os esforços empregados para levar tribos para o Xingu, a construção da Transamazônica. Todos esses tópicos são expostos no roteiro (assinado por Elena Soárez, Anna Muylaert e Hamburger) de modo excessivamente didático, mastigado, impressão realçada pelo emprego do recurso da narração.



A preocupação em não deixar dúvidas ao espectador também vem à tona através da antecipação de algumas informações. Numa cena em que os irmãos observam as índias tomando banho, Orlando chama a atenção de Leonardo. Desde esse instante, fica claro que ele se envolverá com uma índia, conforme acontece um pouco depois (numa bela passagem). Mas a previsibilidade é contrabalançada por méritos. Xingu se revela mais satisfatório no enfoque do relacionamento conflituoso entre os irmãos, qualidade realçada pelos bons desempenhos de João Miguel, Caio Blat e Felipe Camargo (principalmente, os dois primeiros). A naturalidade ambicionada é garantida pelo elenco indígena dessa produção caprichada, que traz ainda imagens de arquivo dos Villas Bôas.

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário