Mais conhecido do público como ator, ainda que mais premiado como diretor (por sua estréia atrás das câmeras no psico-melodrama familiar Gente como a gente, de 1980), Robert Redford concluiu Conspiração Americana, sua oitava direção de longa-metragem em 2010.
O filme foi lançado nos Estados Unidos em abril de 2011 mas só em maio de 2012 chega ao Brasil depois de ser distribuído diretamente em DVD na França e na Suécia. Se não teve boa bilheteria nem nos Estados Unidos, abordando um tema polêmico da História norteamericana ligado ao assassinato de Abraham Lincoln, talvez o tenham considerado sem interesse para outras platéias. O que nos parece injusto.
Na verdade, Redford aborda uma questão jurídica em tempos de guerra (uma preocupação dos liberais americanos com certas medidas polêmicas anti-terror da era G.W. Bush) através do episódio que envolveu uma viúva dona da pensão onde teria sido tramada a conspiração para matar Lincoln, seu Vice-Presidente e um Secretário de Estado. Apenas o Presidente foi morto (pelo ator John Booth), e o choque que tomou conta da nação teria propiciado um julgamento militar de suspeitos civis envolvidos direta ou indiretamente na conspiração.
O personagem central do filme é o clássico herói norteamericano idealizado que, inicialmente a contra-gosto, vai defender Mary Surratt apontando ilegalidades e possíveis desonestidades na condução do processo. Questões jurídicas conhecidas do público que assiste “filmes de tribunal” hollywoodianos, tais como haver convicção de culpa por parte do júri “além de qualquer dúvida razoável” aparecem ao longo dos debates roteirizados de modo convencional, mas atraente, por James Solomon. E surge aqui uma questão sobre o estilo de direção igualmente convencional de Redford: mesmo com um bom desenvolvimento do enredo em mãos, o ator-diretor parece preocupado em não deixar dúvidas sobre a sua “mensagem” liberal, e com isso, exagera um pouco no uso da música permanente (ainda que em altura discreta) e da fotografia com filtros e imagens “flou”, buscando a adesão do espectador pelo coração.
É de se perguntar se uma direção mais distanciada, resultando em menos didatismo e proselitismo, não seria capaz de dar melhor o recado pretendido, já que os resultados do filme em termos de procura do público americano não atendeu às suas expectativas. Em seu filme anterior, Leões e Cordeiros (2007), apesar de ter “nomes” como Tom Cruise, Meryl Streep e o próprio Redford no elenco, parece também não ter atingido o público nem alcançado a repercussão pretendida quando abordou aspectos ligados à guerra no Afeganistão.
Pode-se atribuir também uma boa parcela de responsabilidade a um público mais amplo que vai ao cinema sem querer pensar muito em nada, muito menos em aspectos históricos e jurídicos que ocorreram no passado e que podem estar se repetindo no presente. A tentativa de Conspiração Americana no sentido de captar a atenção deste “grande público” com recursos narrativos do “cinemão” (filme de época com fotografia enfeitada e trilha musical “emotiva”) infelizmente, também não funcionou. O que não retira outros méritos da produção.
Os atores, por exemplo, já valem a ida ao cinema: Robin Wright está quase irreconhecível no papel de uma mulher mais velha e sofrida, em uma composição exemplar . Em papéis secundários, Kevin Kline, Tom Wilkinson, Danny Huston e Evan Rachel Wood compõem um elenco eficiente. E James McAvoy usa bem seu tipo físico algo frágil para crescer no papel do jovem advogado que vai de um quase menosprezo pela causa à qual é induzido a defender até uma obstinação típica de personagens freqüentes no cinema, por exemplo, de Fred Zinnemann (Matar ou Morrer, O Velho e o Mar, O Homem que não vendeu sua alma e Julia com Jane Fonda e Vanessa Redgrave).
Como “filme de tribunal” The Conspirator (título original) funciona bem graças ao roteiro bem amarrado. A direção enfatiza a interessante história com recursos dispensáveis e óbvios de fotografia e música, na tentativa de seduzir o grande público para, através de um episódio histórico do passado, chamar a atenção para questões legais que são atropeladas em tempos de guerra e/ou de grande comoção ontem como hoje.
Podemos também remeter o leitor a um antigo filme (1936) do grande John Ford sobre o médico que atendeu o assassino de Lincoln e que por isso foi envolvido como conspirador. Existe em DVD nacional com o título O Prisoneiro da Ilha dos Tubarões.