Críticas


MINHA IRMÃ

De: URSULA MEIER
Com: KACEY MOTTET KLEIN, LÉA SEYDOUX, MARTIN COMPSTON
30.06.2012
Por Luiz Fernando Gallego
O GAROTO DO TELEFÉRICO

Ele é Simon, um garoto de 12 anos que rouba o que pode em uma estação de inverno suíça: de sanduíches a pares de esquis, passando por relógios, dinheiro.... Vendendo os objetos que rouba (óculos para usar na neve, capacetes, luvas, casacos...) arruma dinheiro para sobreviver.



Ela vive alternado empregos com períodos em que fica desempregada - e aí depende dos furtos de Simon. Frequentemente some por dias com diferentes sujeitos que a apanham em seus carros. Tem fama de puta entre outros meninos que também moram na base do morro onde fica, no alto, a estação para turistas endinheirados.



Na cena mais pungente do filme, ele oferece dinheiro para dormir na cama de casal, ao lado dela, abraçando-a. Perto de Simon, os meninos de Os Incompreendidos< (Truffaut, 1959) ou de O Garoto de Bicicleta (Irmãos Dardenne, 2010) eram muito bem cuidados. Ele é quem tenta cuidar dela, mas ela pode beber todo o dinheiro que ele consegue com a venda de coisas roubadas.



Assim como ela pode usufruir do fato de Simon ser um ladrão, muitos que compram o que ele vende (por um décimo do valor de mercado) aproveitam os furtos, pois percebem o preço ridículo pelo qual adquirem aqueles produtos.



A narrativa seca da diretora francesa Ursula Meier pode incomodar um pouco inicialmente - enquanto os personagens ainda estão sendo apresentados. Mas logo o desconforto surge mais das situações pelas quais Simon vai passando do que pelo fluxo das cenas, cada vez mais interessantes. Não só pela evolução do enredo, mas pela forma com a qual a cineasta utiliza a câmera, podendo alternar planos gerais do cenário natural com os interiores em que o filme se desenrola e planos fechados sobre os rostos dos dois principais atores em participações de uma precisão admirável.



Um parágrafo é insuficiente para tentar descrever a perfeita interação entre os atores nos desempenhos que oferecem sobre o comportamento pouco integrado de seus personagens. Léa Seydoux - que esteve em Bastardos Inglórios, Meia-noite em Paris e no mais recente Missão: Impossível - tem melhor oportunidade do que nos demais filmes citados, oportunidade que ela utiliza com garra . E o menino Kacey Mottet Klein se revela excepcional, sem utilizar nenhum traço de “simpatia” que comovesse de modo fácil a plateia. Aliás, o filme não utiliza recursos melodramáticos fáceis.



Um único questionamento ficaria por conta da cena final com sugestão de carregado simbolismo no uso dos teleféricos, mas nada que comprometa a qualidade deste retrato, sem atenuantes, de um relacionamento desesperado em uma situação de desamparo infantil.

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