Críticas


VELHA DOS FUNDOS, A

De: PABLO MEZA
Com: ADRIANA AIZENBERG, MARTÍN PIROYANSKY
25.07.2012
Por Daniel Schenker
POUCO GLAMOUR E MUITA SOLIDÃO

A idosa Rosa (Adriana Aizenberg, ótima) e o jovem Marcelo (Martín Piroyansky), protagonistas de La Vieja de Atrás (no original), surgem confinados em espaços fechados durante boa parte do tempo. O mundo bate às suas portas com insistentes informações sobre o calor e a falta de chuvas. Diante da escassez de assunto, Rosa comenta sobre o preço da maçã e cultiva implicâncias no dia a dia. Mas não seria correto dizer que nada de diferente acontece para eles.



Quem dá o primeiro passo, surpreendentemente talvez, é Rosa ao convidá-lo, até então um desconhecido vizinho, para morar em seu apartamento. Sem perspectivas, ele aceita cama, mesa e banho de graça. A cobrança, porém, não tarda: Rosa praticamente exige que Marcelo compense a hospedagem conversando com ela a cada noite.



À frente dessa coprodução Brasil/Argentina, o diretor Pablo Meza conduz com sobriedade e sem concessões sentimentais o vínculo entre personagens desglamourizados e solitários. Rosa inventa histórias para animar o seu cotidiano. Constrói ilusões para lidar com a ausência de perspectivas. Marcelo veio do interior e tenta sobreviver na cidade grande, conciliando a faculdade de medicina com trabalhos bem pouco estimulantes.



Exibido no Festival de Gramado de 2010 – de onde saiu vitorioso nas categorias ator (prêmio dividido com Gabino Rodriguez, por Perpetuum Mobile ) e roteiro –, o filme parece contrastar o convívio algo claustrofóbico entre Rosa e Marcelo dentro de um apartamento quase silencioso (não fosse a intervenção de um canário) com a movimentação incessante nas ruas. Entretanto, os fatos que ocorrem no espaço externo vão se revelando cada vez mais repetitivos. Seja como for, o cineasta articula os dois planos por meio da valorização do som ambiente, tanto dentro (televisão) quanto fora (carros, metrô, máquina de xérox) do apartamento de Rosa, minuciosamente concebido pela direção de arte (de Mariela Rípodas).



Crítica publicada no jornal O Globo em 20/07/2012

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