Críticas


BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE

De: CHRISTOPHER NOLAN
Com: CHRISTIAN BALE, ANNE HATHAWAY, GARY OLDMAN
02.08.2012
Por Marcelo Janot
MEDALHA DE BRONZE

Posso elogiar “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge” com a isenção de quem não é muito fã de filmes de super-heróis e nem de histórias em quadrinhos. Como crítico de cinema que vê muitos desses filmes por obrigação profissional ou por mera curiosidade, é inegável notar que a trilogia Batman dirigida por Christopher Nolan (iniciada com “Batman Begins” em 2005 e “O Cavaleiro das Trevas” em 2008) está num patamar acima dos outros filmes com o mesmo personagem e de outras franquias de super-heróis baseados em quadrinhos, como “Hulk” e “Homem-Aranha”.



Ao optar por levar as telas um Batman sombrio, atormentado por problemas existenciais e traumas de infância, Nolan de certa forma descolou o personagem da atmosfera da fantasia pura, emprestando-lhe um realismo que abria espaço para reflexões sem abdicar da narrativa de ação incessante. Ainda assim, os cenários de Gotham dos primeiros filmes lembravam muito mais uma decadente sociedade pós-apocalíptica do que Nova York ou qualquer outra cidade do presente. Havia também personagens como o genial Coringa, de Heath Ledger, que não nos deixavam esquecer que, no final das contas, estávamos diante de um filme de super-heróis mascarados e vilões de quadrinhos. A mitologia de personagens de histórias em quadrinhos ou desenhos animados poderá sempre ser relacionada com o mundo real, gerando leituras e interpretações múltiplas, não apenas no âmbito cultural. Quanto mais plurais e ricas em significados, mais as obras se perpetuam ao longo dos tempos.



Em “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, no entanto, todas as sutilezas que permitiriam ao espectador perceber elementos da realidade ao se transportarem para o terreno da ficção são deixadas de lado. A Gotham sombria se transforma numa Nova York quase ensolarada, com ícones como seus arranha-céus, pontes e estádios facilmente reconhecíveis. No lugar do vilão cheio de maquiagem, Bane parece um lutador de MMA com focinheira e voz gutural a la Darth Vader. No início do filme, a cidade parece ter encontrado seus dias de paz. Não através da erradicação da pobreza e da diminuição das diferenças sociais, como pretendia o pai de Bruce Wayne, mas colocando a bandidagem na cadeia. Sem bandidos na rua, o pobre comissário Gordon praticamente não tem o que fazer.



Se a proposta realista é explícita, então não podemos nos furtar a enxergar uma mensagem política óbvia: cidadãos de Bem, vejam o que vai acontecer se o seu mundo passar a ser dominado por um louco fugido de uma seita secreta de um deserto distante! Ele libertará das prisões toda a escória da sociedade, que tirará os ricos de suas casas na base da força. O Estado de Direito e a Justiça deixarão de existir, sendo substituídos por Tribunais do Povo. A não ser, é claro, que surja um Batman para restaurar a ordem, de preferência com a ajuda de uma Mulher-Gato que nada mais é do que uma alpinista social passível de regeneração.



Estranho ver, em pleno 2012, Hollywood ainda enxergando um possível fantasma anarquista a ser combatido. Mas ainda assim é possível abstrair o recado político e aproveitar o filme como uma diversão competente e acima da média. Anne Hathaway confere o toque de humor que anda tão ausente de produções do gênero, e para quem admirou os dois outros filmes da trilogia é bacana ver como “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” ecoa elementos dos anteriores, seja na conclusão do mistério que ainda envolvia Ra’s Al Ghul, seja através da presença marcante de Michael Caine, Morgan Freeman e Gary Oldman como coadjuvantes ultra-luxuosos. Se não podemos dizer que o novo filme fecha a trilogia com “chave de ouro”, uma medalha de bronze ele leva com louvor.

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