Sete anos depois de ter voltado de uma guerra não definida, Oliver Sherman (Garret Dillahunt) é um cara calado, solitário, que não refez a sua vida e nem parece ter planos ou possibilidades para isso. Seu único impulso consiste em revisitar o passado, mais exatamente Franklin (Donal Logue), um ex-companheiro de trincheira com quem tem uma relação muito especial: nesses acasos provocados pela guerra, Sherman salvou a vida de Franklin.
Diferente de seu ‘salvador’, Franklin leva uma vida pacata em uma cidade rural ao lado da mulher (Molly Paker), dois filhos, com um emprego estável. A princípio, Sherman é bem recebido, e suas pequenas excentricidades são relevadas pelo casal. Aos poucos, porém, o visitante dá a entender que atitudes tão econômicas podem camuflar um barril de pólvora, cujo estopim subterrâneo pode ser detonado por ressentimento, ciúme ou inveja. Dividido entre a pressão da mulher, cada vez mais ameaçada, e sentimento de culpa e gratidão, Franklin tenta o quanto pode contornar uma situação que apresenta vários indícios de perda de controle.
Baseado no conto Veterano de Rachell Ingalls, Oliver Sherman confere ao diretor canadense Ryan Redford, em seu primeiro longa-metragem, um virtuoso exercício sobre a ardilosa arte da contenção e domínio sobre um crescente clima de tensão psicológica. Não é pouco.
Diferente da gradual exteriorização de traumas e conflitos, por exemplo, do emblemático ex-combatente do Vietnam Travis Bickle interpretado por Robert De Niro no clássico de Martin Scorsese, o estreante Redford troca a catarse explosiva pelo gradual desequilíbrio emocional de um ex-combatente que permaneceu preso ao front. Sherman poderia ter um atenuante para seu comportamento - um ferimento na cabeça que o deixou internado por um ano, mas sua inadequação passa por caminhos mais tortuosos.
Com excelente entrosamento do trio principal de atores, Oliver Sherman pode ser considerado um pequeno grande filme que talvez tenha na própria discrição da abordagem o maior obstáculo para que obtivesse uma repercussão mais ampla.
Fica o registro de um diretor sóbrio e seguro que certamente merece ser acompanhado.
Publicada em O Globo em 21/09/2012