Críticas


HOTEL TRANSILVÂNIA

De: GENNDY TARTAKOVSKY
Com: ADAM SANDLER, ANDY SAMBERG, SELENA GOMEZ (vozes na versão original)
11.10.2012
Por Susana Schild
DE PERTO, TODOS OS PAIS SÃO IGUAIS

Todos os pais são iguais – só muda o endereço. Não importa nacionalidade, atividade, preferências alimentares, lista de amigos ou inimigos. Progenitor que se preze treme na hora de soltar a filha amada no mundo. Mesmo que ela ‘só’ tenha 118 anos aninhos. Pois é este o tema de Hotel Transilvânia, mais uma aventura inspirada pelo príncipe das trevas criado pelo irlandês Bram Stoker no longínquo ano de 1897, tido como o personagem mais retratado pelo cinema.



Mas o temível Conde Drácula (Drac, para os íntimos) não parou no tempo. Transformou o antigo castelo em resort de luxo mas mantém, há alguns séculos, uma prudente distância de humanos. E é com toda pompa que ele abre os salões para comemorar a maioridade da rebelde Mavis, que tem como causa principal escapar do manto paterno e botar o pé na estrada. A festa reúne a nata da dinastia de monstros – como Frankenstein (Tio Frank) e sua esposa Eunice, a múmia Murray, uma numerosa família de lobisomens, e muitos mais. Mas a princesinha das trevas não está nem aí para a comemoração. Prefere encarar o pai de igual para igual para fazer valer seus direitos.



Apesar da fama, Drac é um pai super-protetor e assustado com os perigos do mundo. Ele bem que se faz de bonzinho, arma uma farsa para enganar a filha e manter a pose – e a posse. Mas o destino dos antigos contos de fada continua em vigor. Se a menina não vai ao mundo, o mundo vai à menina, representado por Jonathan, um desengonçado mochileiro, ingênuo, roqueiro e com um defeito inaceitável - é humano. E é aí que mora o perigo: quanto mais proibido, melhor – para Mavis, é lógico.



Hotel Transylvania (no original), uma produção da Sony Pictures Animation, segue a linha de filmes como Monstros S.A. e Meu Malvado Preferido, em que os agentes do mal são neutralizados por menininhas espertas e afetivas. Mas Drac enfrenta uma parada mais dura – quem já enfrentou filhas adolescentes, sabe do que elas são capazes. A transgressora Mavis está disposta a tudo após a paixão instantânea e definitiva por Jonathan, tipo, ver o sol nascer. Essas meninas...



Primeiro longa-metragem dirigido por Genndy Tartakovsky, que vem de uma longa estrada em animação para TV, como a série Star Wars: Clone Wars e Samurai Jack, e produção executiva de Adam Sendler (voz do Drácula na versão americana), a animação apresenta um caprichado visual gótico em 3D e expressivo desenho de personagens – sejam monstros, humanos ou variações dessas categorias.

Sem exagerar nas correrias e cenas de perseguição, o filme acentua o lado ‘psicológico’ e estratégias de defesa dos envolvidos. Rola até um certo suspense: mocinho e mocinha ficarão juntos no final?



Alinhado ao partido do ‘politicamente correto’, Hotel Transilvânia oferece muitos pontos de interesse para crianças e seus pais, começando pela reversão de expectativas da convivência entre vilões de carteirinha e humanos. Com ótimos diálogos, situações divertidas (como a genial ‘parada’ monstro), uma trilha adequada e dublagem competente, o filme aposta que, com um pouco de tolerância, as diferenças podem não ser tão ameaçadoras como se pinta. Pelo menos na tela.



Crítica publicada em O Globo de 5 de outubro de 2012

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