Críticas


BARBARA

De: CHRISTIAN PETZOLD
Com: NINA HOSS, RONALD ZEHRFELD, JASNA FRITZI BAUER
29.01.2013
Por Susana Schild
A vida dos outros e de Barbara

Segundo os poucos filmes sobre a Alemanha Oriental exibidos em circuito, o antigo regime pode ter deixado contradições, como no simpático Adeus Lênin, mas não deixou saudades, como no excelente A Vida dos Outros. Seu tema – as conseqüências psicológicas da vigilância permanente exercida pela Stasi, a polícia secreta pré-queda do Muro em 1989 - é de certa forma retomada em Barbara, Urso de Prata em 2012 de melhor diretor para Christian Petzold, co-autor do roteiro.

Como cenário, uma cidadezinha de interior no início dos anos 80, exílio de uma médica berlinense após deixar a prisão por motivos nebulosos. O filme acompanha os impasses desta adaptação, fundamentada em interpretação arrebatadora de Nina Hoss, aparentemente desprovida de emoções, reações e sonhos que raramente rompem a carcaça construída como defesa. A narrativa é um eco da personagem – contida, densa, distanciada – mas evidenciando, a partir das mínimas sugestões, um clima de tensão, opressão e medo. Um medo permanente que invade os espaços mais íntimos – do pequeno apartamento a humilhantes exames médicos em busca de evidências – de quê mesmo?

Apesar da empatia por pacientes, como pela conturbada Stela (Jasna Fritzi Bauer), Barbara recusa envolver-se com a vida dos outros, sobretudo com o chefe Andre (Ronald Zehrfeld), que apesar do jeito afável, pode alimentar a implacável rede de vigilância. Encontros com o amante representam riscos atrozes e passeios pelas florestas podem ser ameaçadores. O sonho supremo – fugir – é um risco voluntário mas inevitável. Raros momentos de cumplicidade estão ligados pela mesma expectativa – deixar o país.

Apesar do viés político, a segura direção de Petzold é admirável ao revelar, com sutilezas, as diferentes reações individuais - das mais desesperadas às mais conformadas. Essa gradação contribui para enriquecimento da trama e seu final desconcertante. Barbara, no entanto, deixara uma pista: não gostava de mar.



Publicado originalmente no jornal O Globo

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