Críticas


OZ: MÁGICO E PODEROSO

De: SAM RAIMI
Com: JAMES FRANCO, MILA KUNIS, RACHEL WEISZ, MICHELLE WILLIAMS
10.03.2013
Por Daniel Schenker
Perde uma parcela do seu impacto justamente quando Oscar/Oz desembarca na Terra de Oz e se depara com esfera desconectada do real.

Conforme o esperado, Sam Raimi não apresenta, em “Oz: Mágico e poderoso” (“Oz: The great and powerful”), apenas um entretenimento convencional, como tantos que surgem no circuito comercial. Entrelaça o artesanal e o tecnológico ao voltar no tempo com o intuito de “investigar” a origem do Mágico de Oz, o personagem-título do célebre filme de Victor Fleming, de 1939, por sua vez escorado no livro de Lyman Frank Baum. Nessa nova aventura, Oscar (James Franco) –apelidado de Oz – é um mágico de circo decadente que parte do Kansas rumo a outro mundo.

Os primeiros minutos, filmados em preto e branco (proposta estética oposta à explosão de cores da Terra de Oz, contraste que lembra o de “O Mágico de Oz”), são os melhores do filme de Raimi, que evoca não só os primórdios do cinema como elementos de manifestações artísticas diversas (em especial, o circo e o teatro). O diretor de “Darkman – Vingança sem rosto” (1990), que esteve à frente da trilogia “Homem-Aranha” (2002/2004/2007), celebra a magia do espetáculo. Mas não se trata de apostar tão-somente na suntuosidade, e sim de estimular a imaginação do espectador, levando-o a transcender as eventuais limitações do plano real e alcançar a dimensão do sonho e do encantamento. A imagem do protagonista alçando voo em meio à ventania e na direção do céu cinza-chumbo permanece após o fim da projeção.

Entretanto, essa produção da Disney perde uma parcela do seu impacto justamente quando Oscar/Oz desembarca na Terra do Oz – e se depara com esfera desconectada do real. A sequência da chegada, em que ele é recebido pela glamourizada bruxa Theodora (Mila Kunis), resulta bastante fraca. Na Terra de Oz, Sam Raimi, que transita com certa dose de inventividade pela grande indústria, parece ceder aos apelos da superprodução luxuosa, ainda que não abandone totalmente a criatividade, a exemplo de soluções como as flores que se tornam sinos e as folhas que se transformam em borboletas, realçadas pelo recurso do 3D. Se a relação entre Oscar/Oz e as bruxas – além da já citada Theodora, a pérfida Evanora (Rachel Weisz) e a bondosa Glinda (Michelle Williams) – não ganha força, algumas criações, como a da devastada cidade de porcelana, se destacam.

O espectador também tende a se sensibilizar com a jornada de evolução do personagem principal, flagrado aqui muito antes da vinda da menina Dorothy, imortalizada por Judy Garland na produção de décadas atrás, à Terra de Oz. A necessidade de pertencimento e o desejo de superação – evidenciados, em “O Mágico de Oz”, por meio da determinação de Dorothy em retornar para casa e do esforço do Espantalho, do Homem de Lata e do Leão de adquirir o que lhes falta (respectivamente, cérebro, coração e coragem) – vêm à tona agora através de Oscar/Oz, que, incomodado por se sentir uma fraude como mágico farsante, constata a própria impotência. Em sua travessia pela estrada de tijolos amarelos, ao lado do macaco Finley e da menina de porcelana, percebe que não é o herói almejado, mas o indivíduo possível. Diante das restrições humanas, o filme acena com a mensagem edificante de que nada é impossível quando se acredita.



Crítica publicada originalmente no jornal O Globo em 7 de março de 2013

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