Críticas


OS AMANTES PASSAGEIROS

De: PEDRO ALMODÓVAR
Com: JAVIER CÁMARA, CECILIA ROTH, LOLA DUEÑAS
28.06.2013
Por Luiz Fernando Gallego
Talvez venha a ser lembrado com o ponto mais baixo de uma carreira que já foi brilhante.

O mais recente filme de Pedro Almodóvar representa um retorno ao início de sua carreira quando fazia comédias irreverentes e iconoclastas, mas acaba por soar como um retrocesso constrangedor.

Antigas realizações como "Maus Hábitos" (1983) e "Labirinto de Paixões" (1982) podem ter tido seu papel e graça na época, mas não sobreviveram nada bem ao tempo e às mudanças ocorridas na trajetória do cineasta nestas três décadas. O esforço em retomar esse velho estilo acaba por se revelar desastroso e patético como seria ouvir um velhote contando piadas ginasianas. Pode haver momentos de fato engraçados aqui e ali, mas o riso vai ficando rarefeito na medida em que o filme não consegue ter um ritmo satisfatório e se limita a uma sucessão de esquetes mais ou menos estanques - alguns sem a menor graça e sem conseguir um clima nonsense que seria indispensável para sustentar as situações absurdas. O que bate na tela acaba por se parecer com um programa de TV de humor mais chulo do que inteligente.

Esforços vem sendo feitos por exegetas do diretor no sentido de emprestar ao filme super-significados, como o de pretender metaforizar a Espanha atual em uma adormecida classe econômica de um avião que gira em círculos sem trem de pouso, sem ter onde fazer um pouso, mesmo que de emergência. Por outro lado, haveria a classe “executiva” descerebrada ou/e corrupta e/ou assassina ou/e paranoica etc. Pilotos e comissários não são confiáveis e os riscos da viagem são dissimulados a pão e circo. E bebidas alcoólicas e drogas, claro.

Depois de um anêmico (e repetitivo “filme de Almodóvar”) "Abraços Partidos", seguido por uma tentativa de turbinar "A Pele que Habito" com bizarrices e excessos que deixaram a emenda pior do que o soneto anterior, "Os Amantes Passageiros" talvez venha a ser lembrado com o ponto mais baixo de uma carreira que já foi brilhante, mas que está passando do sinal amarelo para o vermelho. Melhor esquecê-lo do que lembrá-lo e manter uma tensa expectativa de recuperação do cineasta.

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