Salvo , que no Brasil recebeu um título pretensamente explicadinho (Salvo , uma história de amor e máfia) recebeu no Festival de Cannes deste ano o “France 4 Visionary Award” e o Grande Prêmio da Semana da Crítica. Talvez não agrade ao público que acreditar concretamente no que o título nacional induz a supor: não é que haja uma mentira no nome "complementar" emprestado ao título original, mas o espectador pode ir animado a encontrar outro tipo de filme.
Os estreantes na direção Fabio Grassadonia e Antonio Piazza capricharam em uma narrativa eminentemente visual: fala-se pouco durante o filme, o que se remete, em parte, ao perfil seco e limitado do personagem-título (sim, ele se chama “Salvo”) assim como há uma enorme falta de diálogo entre ele e uma de suas vítimas, uma moça cega interpretada com garra por Sara Serraiocco estreando nas telas.
O enredo é mais do que pisado e repisado em tantos filmes anteriores, bons ou ruins: o assassino que se deixa envolver com a vítima. Mas o que importa aqui é o modo de desenvolver essa história que nada tem de original. Existe apenas um pequeno elemento a mais no roteiro – e que não será mencionado aqui – dando um toque levemente surreal ao que é mostrado de modo predominantemente naturalista em longos planos-sequência, não como cacoete da moda, mas como parte integrante do que se quer - e como se quer - mostrar sobre a situação de base e sua evolução. Que é lenta – o que decepcionará os que esperam encontrar um filme “de máfia”. E nada romântica, frustrando os que procuram uma história “de amor”. Há máfia e há algo que talvez transcenda a questão amorosa, mas não do modo mais comum que se vê nos filmes de gênero. Para quem curtir esse modo de reapresentar um velho tema, o filme pode ser bem satisfatório.
O ator que faz ‘Salvo’ com enorme contenção e pertinência é o árabe-israelense Saleh Bakri que já teve pelo menos três filmes dos quais participou lançados no Brasil, sendo o mais conhecido aquele simpático A Banda (2007); os outros dois foram A Fonte das Mulheres (2011) e O que resta do Tempo , de Elia Suleiman, 2009. Em Israel ele é conhecido também por ter feito Hamlet e A Morte e a Donzela nos palcos, além do papel de Jesus em um documentário produzido por James Cameron para o Discovery (The Last Tomb of Jesus). Parece que versatilidade não lhe falta.
A Fotografia de Salvo é de Daniele Ciprì (que fez a fotografia premiada de Vincere, de Marco Bellocchio em 2009) - também diretor de documentários, roteirista e montador, experiência que deve ter colaborado para o resultado pretendido e conseguido pelos diretores estreantes.