Críticas


BASTARDOS

De: CLAIRE DENIS
Com: VINCENT LINDON, CHIARA MASTROIANNI, MICHEL SUBOR,
18.10.2013
Por João de Oliveira
Embora interessante e com momentos sublimes, a direção é às vezes um tanto maneirista.

Um comandante da Marinha abandona seu navio para ajudar sua irmã, cuja filha foi estuprada e o marido se suicidou (deixando-a endividada e a empresa de calçados da família falida). Marco Silvestri (Vincent Lindon), que adora a sobrinha e admirava o cunhado que era seu melhor amigo (foi ele quem o apresentou à irmã), sacrifica toda a sua vida e o pouco dinheiro que possui para pagar as dívidas deixadas e tentar vingar-se do suposto responsável por todos esses problemas, um empresario velho e poderoso que é acusado pela irmã (o excelente ator Michel Subor). Persuadido por esta última, Marco acredita que seu cunhado foi forçado ao suicídio pelo tal empresário, representado como a parte monstruosa da imoderada ambição capitalista. Para começar, ele aluga um apartamento ao lado do da amante do empresário (Chiara Mastroianni), a quem ele termina por seduzir com o único objetivo de obter mais informações sobre seu homem que é pai do filho da moça.

Suas investigações levam-no a descobrir uma garçonnière numa periferia próxima de Paris na qual os ricos realizam festinhas sadomasoquistas com jovens ninfetas. Aos poucos Marcus, que é divorciado, pai de duas meninas e há anos vivia distante de sua irmã, vai descobrindo os segredos de sua família e suas relações com o tal empresário.

Na primeira parte do filme, a narração utiliza muitos closes como se desejasse penetrar o interior das pessoas, descobrir quem verdadeiramente são elas, o que se esconderia por trás de seus rostos e os espectadores ignorariam. A segunda parte do filme é marcada pela onipresença da música do grupo Tindersticks, com o qual a diretora já trabalhara em outros filmes. O trabalho com a sua fotógrafa preferida, Agnès Godard, obtém alguns momentos bem interessantes, apesar das conhecidas dificuldades da filmagem em digital.

A família é a única instituição da qual não escolhemos participar. Ela nos é imposta. Mais uma vez, como em seus dois últimos filmes (35 rhums e White material), a diretora traça um retrato sem piedade de uma certa família francesa.

ATENÇÃO, SPOILER

E a vítima desta vez é uma família pequeno burguesa parisiense totalmente pervertida e corrompida pelo capitalismo. O filme, que é extremamente pessimista, descreve o microcosmo de uma sociedade completamente amoral, onde não há santos e tudo, ou quase tudo, rescende a podridão, a interesse material. Violento, até as cenas de amor parecem brutalizadas. Há uma cena que lembra vagamente a bela cena de amor na escada no filme de David Cronenberg, Marcas da violência. Em Os bastardos a cena tem menos paixão, embora pareça mais realista em razão da cumplicidade entre os dois atores que formam um casal na vida real.

O filme utiliza alguns arquétipos do filme noir e a intriga lembra, muito vagamente, alguns romances de Dashiell Hammett. Embora interessante e com alguns momentos sublimes, a direção é em alguns momentos um tanto maneirista e acaba por sacrificar os personagens que, excessivamente elípticos, carecem de um pouco de profundidade psicológica e dramática (principalmente o personagem da bela Chiara Mastroianni), vítimas, talvez, de um roteiro um tanto sintético e convencional. Além disso a pluralização do título em francês, inspirado pelo filme de Akira Kurosawa Homem mau dorme bem (no singular) que em francês se chama Les salauds dorment en paix, não é muito feliz, reduzindo um pouco da surpresa final do filme. Todavia, mesmo que não seja a melhor obra da diretora é, apesar dos defeitos, um bom filme apesar de todo o seu pessimismo e um bom momento de cinema para aqueles que não procuram apenas diversão nas telas.













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