Geralmente esnobado por uma parte da crítica cinematográfica, o diretor Alexander Payne tem alguns títulos simpáticos em sua carreira, como o já antigo Ruth em Questão (1996) e As Confissões de Schmidt (2003), baseado em romance de Luiz Begley e que contou com um dos grandes momentos de Jack Nicholson (sua mais recente indicação ao Oscar, há mais de dez anos). Mas o público talvez se recorde mais de Sideways – entre umas e outras (2004) e de Os Descendentes (2011) que deram ao diretor dois prêmios Oscar de roteiro.
Para este Nebraska, Payne não escreveu o roteiro – que por sua vez também não é baseado em outra fonte; é a primeira vez que ele dirige um roteiro original desde Ruth em Questão, que tinha Laura Dern, filha de Bruce Dern no papel- título. E é Bruce, premiado como ator em Cannes este ano, o maior atrativo de Nebraska.
Lembrado por sua presença marcante em papeis coadjuvantes dos anos 1970 (Amargo Regresso, 1978, e O Grande Gatsby, 1974), Dern é candidato ao Oscar deste ano em um papel do tipo que a Academia de Hollywood adora premiar: o de gente idosa - como foi o caso de Jessica Tandy em Conduzindo Miss Daisy (1989). Mas este personagem, ‘Woody Grant’, parece ter sido desenhado desde o roteiro com poucas nuances, limitando-se quase que a um tipo característico: o velhinho já meio demenciado com acréscimo de uma personalidade prévia nada simpática (alcoólatra e pouco ligado em seus filhos). Dentro de tais restrições, Bruce Dern até se sai bem, mas o prêmio que recebeu em Cannes soa um pouco exagerado. Teriam aproveitado para dar um prêmio que destacasse o filme? Esta última hipótese então soa bem mais exagerada para um produto que faz gracinhas com velhinhos irreverentes até a falta de educação e perda de crítica (e nisso está incluída a personagem da mulher de Woody, vivida pela histriônica June Squibb, também indicada ao Oscar (!), como atriz coadjuvante; no Brasil, o papel poderia ser de uma Dercy Gonçalves, estivesse viva); para piorar, o filme também oscila em direção a uma dose –moderada que seja - de pieguismo.
O melhor fica mesmo por conta do retrato (caricatural - ou não?) dos tipos de uma cidade interiorana norte-americana, com destaque para os personagens cômicos dos primos de David - que é o filho submisso ao pai, o qual, segundo outro irmão, o mais velho Ross (Bob Odenkirk), não mereceria tanta atenção de David (Will Forte, em outro personagem bidimensional para o qual o ator tenta dar alguma interioridade, especialmente na breve cena em que reencontra sua obesa ex-companheira e quando vai sendo informado de detalhes quase escabrosos do passado de seus pais).
A fotografia em preto-e-branco na tela larga, de Phedon Papamichael - que vem colaborando nos últimos filmes de Payne - dá um toque de elegância que o filme não sustenta em seus 115 minutos esticados com um trecho road movie dispensável. Desta vez, Payne dá razão à crítica que o menospreza.