Críticas


INSIDE LLEWYN DAVIS

De: ETHAN e JOEL COEN
Com: OSCAR ISAAC, CAREY MULLIGAN, JOHN GOODMAN, JUSTIN TIMBERLAKE
21.02.2014
Por Luiz Fernando Gallego
Um dos melhores filmes da temporada, um dos melhores dos Irmãos Coen.

Atenção para a elegância da narrativa cinematográfica deste filme! Talvez esta seja uma sugestão supérflua para o espectador que for ver o mais recente filme dos irmão Coen, pois não há como não notar, por exemplo, o trabalho plástico na fotografia (do francês Bruno Delbonnel), mais aproximada dos tons em pastel que ele usou para o Fausto, de Sokurov, do que para o hipercolorido Amélie Poulain. Também a edição (dos próprios irmãos Coen) faz da transição de cada sequência de cenas para outra algo equivalente ao “legato” na música. Também há evidentes citações daquele ângulo de tomada tão comum na obra de Kubrick com o ponto de fuga bem central em perspectiva: seja em um banheiro verde como em O Iluminado, seja em um corredor claustrofóbico e em cujo final, vemos uma porta de cada lado, em ângulo; um corredor tão absurdamente estreito que mal permite a passagem de duas pessoas ao mesmo tempo.

As imagens, enquadradas de modo a nos deixar a certeza de que não seria possível posicionar a câmera em outro lugar, são acompanhadas de uma sensível edição de som e trilha musical que vai de - predominantemente - folk music até Mozart e Mahler, utilizados economicamente, mas com extrema propriedade.

Em resumo, do ponto de vista da narrativa, este é um dos melhores filmes da temporada, um dos melhores dos Irmãos Coen, e um dos melhores da corrida do Oscar deste ano - ainda que indicado apenas nas categorias de fotografia e edição de som. Não importa: assim como é dito no filme que “se uma música é antiga e boa, é folk music”, arriscamos dizer que Inside Llewyn Davis é daquele tipo que, mesmo quando ficar antigo, continuará bom de ser visto e revisto pois já nasceu como um clássico - mas sem nenhum ranço de classicismo engessado.

O roteiro tem uma estrutura mais simples, praticamente um flashback que é quase todo o filme, com o desfecho retomando a cena inicial, ainda que com pequenas diferenças, porém marcantes: outros ângulos e outras formulações dos mesmos diálogos. Há também um pequeno trecho de road movie no qual John Goodman dá sua habitual e eficiente contribuição a filmes dos Coen, assim como fazem os demais atores, mais ou menos conhecidos, quase todos (à exceção do que faz o personagem-título que está o tempo todo em cena) aparecendo brevemente e em episódios isolados do percurso do personagem central. Carey Mulligan tem direito a uma participação um pouco mais longa do que Justin Timberlake e F. Murray Abraham, por exemplo, desfazendo a má impressão deixada por sua surpreendentemente insípida participação no histérico Gatsby do ano passado.

Mas o filme é mesmo de Oscar Isaac, um nome não muito conhecido até agora e que já esteve em papel coadjuvante ao lado de Carey Mulligan em Drive. Embora filmes lançados em 2013 tenham sido pródigos em bons desempenhos masculinos para a corrida do Oscar, a ausência de indicação para Isaac (assim como a não-indicação de Joaquin Phoenix por “Ela") é sintomática de como é difícil a percepção valorativa de interpretações mais interiorizadas e construídas “de dentro para fora”, ao invés da técnica mais comum “de fora para dentro” - que pode ser funcional e ótima quando usada por bons atores - e que impressiona mais pela exterioridade evidente do que o personagem deve aparentar. Já Oscar Isaac mantém sua expressão facial fechada e na qual mal se vê algum raríssimo esboço de sorriso, sempre tenso, transmitindo, no entanto, quem é e como reage Llewyn Davis em cada situação do enredo. Com passado de cantor e guitarrista, Isaac tem comoventes passagens quando canta.

Cabe também ressaltar que, embora não seja um filme “difícil”, Inside Lllewyn Davis também será mais apreciado pelos que curtem um filme sem grandes lances ou viradas de roteiro, sintonizado com o personagem de um looser na indústria musical dos anos 1960, época bem caracterizada pela direção de arte, cenários e objetos de cena, especialmente no caso dos automóveis.

Para amenizar o clima puxado ao sem saída (como em Um Homem Sério, de 2009, dos mesmos Joel e Ethan Coen), há alguns lances de humor irônico e (nem tão) negro, além de ótima participação felina - que pode até lembrar (intencionalmente?) a busca de um gato em beco como no final de “Breakfast at Tiffany's” (1961) - sendo que estes dois filmes não poderiam ser mais diferentes, salvo na melancolia, aqui mais explícita.

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Outros comentários
    1254
  • Anderson de Oliveira
    11.03.2014 às 13:28

    Parabéns pelo site, acabei de conhecer.Estava a procura de um site com críticas de filme (minha paixão), mas que fugisse um pouco do padrão atual! Agora ao filme:Tenho que tirar o chapéu pros irmão Coen, mostrar a dureza da vida de um músico Folk nos anos 60, pela visão de um derrotado foi genial, confronta-lo com Bob Dylan na cena final chegou a me causar um desconforto, por mostrar a realidade que existe na música. Nem todos chegam ao objetivo almejado.