A Colheita das Olivas não aborda de forma generalizada o choque entre tradição e modernidade. Diferente disto, utiliza esse descompasso polêmico como ponto de partida rumo ao encontro de questões mais verticais, como a consciência de que as transformações e características próprias de cada tempo não anulam o sentido de ancestralidade existente dentro de cada um.
Caminhando na contramão das falas radicais de algumas de suas personagens, Hanna Elias defende a possibilidade da apropriação – e conseqüente atualização – do legado de antepassados e até de uma dissociação entre enraizamento e elo com a terra. “Eu não sou ligada à terra como você”, diz uma personagem, que, apesar da coragem de sair de sua aldeia de origem para viver em Ramallah, permanece afetivamente conectada à família, retornando todo ano para participar do período de colheita das olivas.
Rebeldias parciais à parte, a perspectiva do não cumprimento das regras impostas pelos mais ortodoxos se traduz num peso quase impossível de ser sustentado, na medida em que traz o litígio familiar como ameaça, não deixando muito espaço para uma chance real de opção entre obediência e independência. Dividida entre o afeto que sente por dois jovens irmãos, Raeda, contudo, não se martiriza apenas com a resolução perigosa de um caso particular, mas também com uma situação simbólica no que diz respeito à expectativa do abandono. A Colheita das Olivas toca em valores humanos que elevam sua realização para além de um retrato pouco apurado do conflito Israel/Palestina.
# A COLHEITA DAS OLIVAS (Mousse Al Zaytoun)
Palestina/EUA, 2003
Direção e roteiro: HANNA ELIAS
Elenco: MUHAMAD BACRI, RAEDA ADON, TAHER NAJEB, MAZEN SAADE
Duração: 94 minutos