Críticas


SINAIS

De: M.NIGHT SHYAMALAN
Com: MEL GIBSON, JOAQUIM PHOENIX, CHERRY JONES, RORY CULKIN
23.09.2002
Por Pedro Butcher
BEM DIRIGIDO, MAS TÃO MAL ESCRITO...

É tanta a carência de Hollywood por novos talentos que o sucesso de O Sexto Sentido(1999) elevou seu roteirista e diretor, M. Night Shyamalan, à categoria de quase-gênio. Fenômeno de bilheteria global aceito também como um filme de qualidade – tudo o que Hollywood ambiciona, enfim –, O Sexto Sentido fez de Shyamalan uma estrela, hoje paga a peso de ouro para escrever roteiros como o do próximo capítulo do franchise Indiana Jones.



Sinais, o terceiro filme da nova griffe hollywoodiana Shyamalan (depois de O Sexto Sentido e Corpo Fechado) surpreende por um motivo curioso: é bem dirigido e mal escrito. Tão mal escrito que chega a ser embaraçoso. Fato jamais compensado pela beleza da composição das imagens e a criação de uma atmosfera misteriosa com poucos elementos, as únicas qualidades do filme.



O primeiro estranhamento do roteiro é a má utilização de seu motivo central – a aparição de enormes desenhos em plantações, aqueles que, na “vida real” já foram atribuídos a ETs mas eram criados por gente que não tinha o que fazer. A premissa de Shyamalan é das mais óbvias – e se esses sinais fossem mesmo produção de extraterrestres? Em pouco tempo, porém, eles serão abandonados para dar lugar a um suspense do tipo “entre quatro paredes”. Shyamalan, rei do artifício e da arte de despistar, apenas faz uso dos tais sinais extraterrestres para contar uma outra história, de fundo apavorantemente moralista: a de como o pastor Graham Hess (Mel Gibson), que desistiu de sua função depois da morte de sua mulher, recobrou sua fé.



Não é difícil traçar paralelos entre o ataque de ETs do filme e os ataques de 11 de setembro. Num momento chave de Sinais, por exemplo, a filha do pastor, à cata de desenhos animados na TV, vem reclamar com o pai: “Todos os canais estão mostrando a mesma coisa”. Em 11 de setembro, todos os canais mostravam a mesma imagem. O ataque imaginado por Shyamalan é com gás – e se essa não for uma referência proposital ao temor da guerra química de Sadam Hussein pouco importa. É a velha questão, tão discutida depois de 11 de setembro: Hollywood reflete e alimenta a grande paranóia americana pela destruição e pela catástrofe. Nesse sentido, a essência de Sinais, ainda que disfarçada sob uma certa elegância de mise-en-scene, não é muito diferente da de Independence Day.



Mas o que convence menos, nesse panorama, é a trajetória dramática do herói do filme, o pastor Graham. Não está em jogo apenas a inadequação de Mel Gibson para o papel. Shyamalan define o “arco” da transformação final do personagem recorrendo a recursos absolutamente inacreditáveis. Ele tenta convencer a platéia de que fatos tão díspares quanto a obsessão de sua filha por copos d’água, o talento desperdiçado de seu irmão (Joaquim Phoenix) para o beisebol e a asma do filho na verdade fazem parte de um único e indefectível milagre. Mas só uma fé cega no cinema pode fazer o espectador acreditar no que ele quer.



SINAIS (SIGNS)

EUA, 2002

Direção e Roteiro: M. NIGHT SHYAMALAN

Produção: FRANK MARSHALL, SAM MERCER, M. NIGHT SHYAMALAN

Fotografia: TAK FUJIMOTO

Montagem: BARBARA TULLIVER

Música: JAMES NEWTON HOWARD

Elenco: MEL GIBSON, JOAQUIM PHOENIX, CHERRY JONES, RORY CULKIN, ABIGAIL BRESLIN

Duração: 106 min.

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