Críticas


FLORBELA

De: VICENTE ALVES DO Ó
Com: DALILA CARMO, IVO CANELAS, ALBANO JERÔNIMO
07.05.2014
Por Carlos Alberto Mattos
Pomposa e vazia falsificação de um destino trágico

Se você quer saber como era a poeta portuguesa Florbela Espanca e por que ela morreu prematuramente aos 36 anos, esse filme que está em cartaz não é a melhor escolha. Mas se quiser ver uma mulher opaca, obscurecida por "mistérios insondáveis" e afogada num mar de novelão televisivo, Florbela é o programa ideal. No filme, a escritora avançada para o seu tempo e atormentada por desajustes amorosos e por impulsos suicidas aparece como se fosse uma sombra de si mesma. Nenhuma janela se abre para suas motivações ou desmotivações, além de um apego potencialmente incestuoso pelo irmão – o que rende cenas intermináveis de olhares concupiscentes e amor reprimido.

A obra literária de Florbela (poesia, contos, diários) não ressoa minimamente nessa narrativa de seus últimos anos (ou meses?), quando não mais escrevia. Dessa forma, temos uma personagem que poderia ser perfeitamente uma arquiteta ou uma manicure sem fazer a menor diferença. Seus últimos tempos com o terceiro marido e o irmão são narrados com um convencionalismo atroz, pontuado por frases lapidares em dicção empolada e música excessiva. Cada sequência deixa a impressão de ter pelo menos três minutos a mais do que deveria. Na cenografia de telessérie, até o lixo da rua aparece bem arrumadinho.

O excesso de zelo com a imagem da escritora chega a alterar sua causa mortis. Um letreiro final informa que Florbela "morreu de tristeza" em 1930, quando bem se sabe que a morte foi por overdose de barbitúricos na terceira tentativa de suicídio. Florbela é a pomposa e vazia falsificação de um destino trágico.

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