A ambição, maior qualidade de Passaporte Para a Vida, é também o seu principal defeito. Com base em dois personagens reais, o diretor Jean Devaivre e o roteirista Jean Aurenche, Bertrand Tavernier conta a história da produtora alemã Continental, que operou na França durante a ocupação nazista. Devaivre, aliás, reivindicou a co-autoria do filme, inspirado em seu livro Salvo-Conduto.
Com três longas horas de duração, Passaporte Para a Vida aborda o tema sempre espinhoso, para os franceses, do colaboracionismo e da Resistência, mas com nuances que justificam o projeto. Tavernier não tem uma pretensão didática, não quer dar uma lição de História, mas simplesmente recuperar a atmosfera da época através dos olhos de profissionais de cinema às voltas com difíceis dilemas morais. São os pequenos dramas de pessoas comuns que constituem a parte mais interessante do filme, que evita assim a armadilha do maniqueísmo.
Tavernier, porém, decidiu dar a estas histórias um tratamento épico. Fiel às suas crenças estéticas – que o levaram a polemizar com os principais representantes da Nouvelle Vague – ele faz um autêntico cinemão, com histórias secundárias que se cruzam num grande panorama da época. Por conta disso, Passaporte Para a Vida é um filme pesado, apesar de bem dirigido, bem fotografado, bem montado etc. A interpretação é excessivamente teatral. Mas Tavernier sugere, porém, questões interessantes sobre o sentido do heroísmo e da rebeldia, mostrando que a fronteira entre a covardia e a sensatez é muitas vezes bastante tênue.
# PASSAPORTE PARA A VIDA (LAISSEZ-PASSER)
França/Alemanha/Espanha, 2001
Direção: BERTRAND TAVERNIER
Roteiro: BERTRAND TAVERNIER, JEAN COSMOS
Produção: FREDERIQUE BOURBOULON, ALAIN SARDE
Fotografia: ALAIN CHOQUART
Montagem: SOPHIE BRUNET
Música: ANTOINE DUHAMEL
Elenco: JACQUES GAMBLIN, DENIS PODALYDES, MARIE GILLAIN, CHARLOTTE KADY
Duração: 170 min.