O diretor canadense de origem armênia Atom Egoyan (O Doce Amanhã, Exótica) costuma trabalhar, em universos distintos, um mesmo tema: a relação pai-filho, sempre marcada pela ausência, pela dor, pelo enigma. Em Ararat, o intimismo de Egoyan se contrapõe à grandiloqüência de uma investigação histórica do massacre armênio promovido pelos turcos no início do século passado.
Com isso, temos dois filmes em um, costurados entre si com a habitual competência do Egoyan roteirista, que sabe como manter o suspense ao narrar uma história em flashback. O “primeiro filme” trata das difíceis relações internas de duas famílias: a de um jovem filho de uma professora de história da arte duas vezes viúva (seu primeiro marido, um militante político armênio, foi assassinado; o segundo teria se suicidado por culpa dela) e a de um funcionário da polícia alfandegária prestes a se aposentar (Christopher Plummer, em grande atuação). O “segundo filme” é a reconstituição, em tom que oscila entre o épico e o teatral, do massacre turco na Armênia. A junção dos dois cenários se dá a partir do encontro do jovem com o inspetor alfandegário.
O “filme de guerra” pode ser esclarecedor para quem deseja ter uma aula sobre o pintor armênio Arshile Gorky e o massacre turco, mas seu didatismo é excessivo. Só não chega a lembrar aquelas produções históricas formais, feitas por encomenda, porque Egoyan sabe como contextualizá-lo dentro do drama familiar - que é a praia onde ele nitidamente se sente mais à vontade, e Ararat é a prova disso.
# ARARAT
Canadá, 2002
Direção e Roteiro: ATOM EGOYAN
Produção: ATOM EGOYAN, ROBERT LANTOS
Fotografia: PAUL SAROSSY
Montagem: SUSAN SHIPTON
Música: MICHAEL DANNA
Elenco: CHRISTOPHER PLUMMER, DAVID ALPAY, CHARLES AZNAVOUR, ARSINEE KHANJIAN
Duração: 126 min.
Texto escrito para a edição especial do Críticos.com.br no Festival do Rio - publicado originalmente em 03.10.2002