
Evaldo Mocarzel tomou duas boas iniciativas em Cuba Libre: registrar a volta da atriz transformista Phedra de Córdoba a Havana depois de 53 anos; e usar a viagem para documentar o embrião de uma nova consciência sobre a diversidade sexual na ilha de Fidel. Só faltou fazer com que esses dois assuntos conversassem de verdade dentro do filme.
Um dos problemas do roteiro é não fazer com que a presença assumida e performática de Phedra em solo cubano possa ser percebida como sinal ou termômetro de qualquer avanço psicossocial. Ela está por demais ocupada com suas memórias e embevecida com seu estrelato no documentário para servir de agente de uma investigação da cena artística cubana. Evaldo, por seu lado, obtém flashes um tanto soltos, dos quais o melhor sem dúvida é uma entrevista com um casal de lésbicas que se refere uma à outra com poemas. Há também uma curiosa noitada num clube LGBT de Havana, mantido em regime de semiclandestinidade.
O grupo teatral paulista Satyros, ao qual pertence a atriz, está em Havana ensaiando um espetáculo de autor cubano, texto que também permanece em relativa obscuridade depois de terminado o filme. De maneira geral, Cuba Libre sugere o aproveitamento limitado de uma rara oportunidade. Dessa vez, o proverbial senso de urgência e improvisação de Mocarzel não foi suficiente para juntar as pontas da aventura.