Críticas


ESSE VIVER NINGUÉM ME TIRA

De: CACO CIOCLER
12.12.2014
Por Carlos Alberto Mattos
Um amável tributo a Aracy Guimarães Rosa, o "Anjo de Hamburgo"

Ela já havia aparecido discretamente como esposa coadjuvante em documentários sobre o autor de Grande Sertão: Veredas. Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa ganha agora status de protagonista em Esse Viver Ninguém me Tira, um amável perfil dirigido por Caco Ciocler. De origem judaica, Caco compartilha a gratidão que muitos judeus devem a Aracy pelo trabalho clandestino e arriscadíssimo que ela desempenhou no consulado brasileiro em Hamburgo, em fins dos anos 1930, desobedecendo um acordo de Vargas com a Alemanha e fornecendo vistos de permanência para refugiados do nazismo.

O diretor trabalha dentro dessa perspectiva ao incluir-se na cena como pesquisador, permitindo-se mesmo alguns excessos como filmar-se rezando no Muro das Lamentações. Mas o empenho é sincero e comovente, sobretudo quando Caco assume a narração e coloca sua voz cálida a serviço da memória de Aracy, seja lendo entradas do diário dela ou fazendo especulações carinhosas sobre sua vida. Ele garimpa arquivos particulares, entrevista filhos de sobreviventes e vai ao memorial Yad Vashem colher a confirmação do reconhecimento oficial de Israel ao "Anjo de Hamburgo", uma gói filha de mãe alemã.

Embora a relação com Rosa fique em segundo plano, sublinha-se a inspiração da companheira sobre a obra-prima do escritor. Na aplicação com que enfatizam a coragem de Aracy, os participantes do filme desvirtuam uma informação: separada do primeiro marido, aos 25 anos, ela não partiu para a Alemanha num impulso meramente aventuresco. Foi viver com uma tia e procurar emprego de intérprete ou tradutora.

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