Críticas


A TEORIA DE TUDO

De: JAMES MARSH
Com: EDDIE REDMAYNE, FELICITY JONES, CHARLIE COX, SIMON McBURNEY, EMILY WATSON
30.01.2015
Por Luiz Fernando Gallego
O filme é amável, mas a composição de Eddie Redmayne é excepcional.

Premiado com um Oscar pelo sensacional documentário O Equilibrista, de 2008, o diretor James Marsh volta outra vez à ficção – ainda que baseada em fatos reais - com uma cinebiografia do conhecido físico e cosmólogo Stephen Hawking. O filme atinge resultados mais satisfatórios do que seria de se esperar, em grande parte graças ao humor - que seria mesmo uma das características do biografado, ainda que portador da gravíssima doença neurológica que compromete seus músculos, postura e movimentos de forma devastadora.

Não ter resvalado no melodrama foi uma ótima opção do roteiro que se baseou no livro da primeira esposa de Hawking, Jane Wilde (nome de solteira). A propósito: quando os créditos finais nos deram esta informação sobre a origem do roteiro, ficamos algo desconfiados do que vimos na (excelente) interpretação de Felicity Jones como doce e dedicada esposa de um homem tão prejudicado fisicamente pela doença. Se a real Jane não reclamou - claro - de sua imagem no filme, não deixou de apontar que as discordâncias causadas pelo ateísmo do cosmólogo Hawking - contrário à fé da esposa em um criador divino - foram mais intensas do que o filme expõe. O pai de Hawking, vivido de modo bem simpático por Simon McBurney (visto há pouco tempo como o mágico menos bem sucedido de Magia ao Luar, de Woody Allen) também não seria tão afável, ainda segundo sua ex-nora.

Para o filme, entretanto, o que importou foi fazer da vida de Hawking uma mezzo comédia romântica, mezzo comédia dramática na qual a esposa é dedicada e fiel apesar das tentações, enquanto ele, depois de 30 anos de casados, a deixa por uma enfermeira/acompanhante tolerante com a leitura de revistas como “Hustler” por parte do cientista que segue a linha "fiquei deficiente, mas não morri". Aliás, uma das melhores piadas do filme (e a plateia ri bastante durante a projeção) é quando um amigo pergunta a Stephen se a paralisia também atingiu o órgão sexual. A resposta do homem prejudicado fisicamente, mas com a capacidade mental intacta e muito acima da média, é sincera, triunfante, e tão verdadeira quanto cientificamente perfeita. Raramente uma alusão ao Sistema Nervoso Autônomo seria tão gaiata.

Apesar de Felicity Jones estar muito bem mesmo, se o filme merece um destaque especial é pela composição de Eddie Redmayne como Hawking. Mesmo que se implique com a inclinação do Oscar em premiar atores que interpretam personagens deficientes, desta vez nada seria mais justo. Não se trata apenas de reproduzir a postura da pessoa real retratada: assim como Hawking é muito mais do que um corpo deformado, o trabalho de Redmayne ultrapassa a fisicalidade, o aspecto externo, e é rico em transmitir sentimentos até sem palavras, por olhares e mímica expressiva. Mais do que o aspecto exterior, o ator constrói interioridade. Mais do que uma interpretação “de fora para dentro”, ele compõe o personagem, tão icônico por seu aspecto físico, “de dentro para fora”.

Em uma temporada em que os filmes abusam da informação de que foram “baseados em fatos reais”, alguns ganham autonomia dramática e cinematográfica, como o americano Foxcatcher; outros desperdiçam uma palpitante história verdadeira em um monte de clichês do gênero "cinebiografia", como o inglês O Jogo da Imitação. No meio-termo, A Teoria de Tudo, é um filme amável, tão - ou ainda mais britânico - do que o anterior, e também retratando súditos reais de Sua Majetade Elizabeth II, só que - apesar da doença - mais bem reconhecidos, em vida e na tela.

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Outros comentários
    4078
  • Anna Clara Carrapatoso
    06.03.2015 às 20:43

    Assisti o filme hoje e realmente o ponto alto é a interpretação de Eddie Redmayne que dá veracidade a história.