Críticas


PARA SEMPRE ALICE

De: RICHARD GLATZER e WASH WESTMORELAND
Com: JULIANNE MOORE, ALEC BALDWIN, KRISTEN STEWART
11.03.2015
Por Luiz Fernando Gallego
Pode parecer um filme institucional sobre Alzheimer, mas tem a interpretação de Julianne Moore como recomendação.

Do ponto de vista estritamente cinematográfico, Para Sempre Alice pode parecer um filme institucional de alguma entidade de apoio a doentes de Alzheimer ou/e a seus familiares. O diferencial está no elenco encabeçado pela agora oscarizada Julianne Moore e sua habitual entrega às personagens que interpreta. Ela surge cercada de atores bem afinados com os tipos que vivem, ainda que pouco excedam os estereótipos: como a filha casada (Kate Bosworth) lutando para engravidar e que implica com a irmã que luta para se estabelecer na carreira de atriz (Kristen Stewart) – atividade esta que traz preocupações para a mãe. Menos participante no enredo, há um filho médico que troca de namorada constantemente. E há o marido boa praça, ainda que muito centrado em seu trabalho (Alec Baldwin). Mas Alice também se deixa absorver bastante pelo trabalho, sendo uma consagrada linguista da Universidade de Columbia, dando aulas na cadeira de Psicologia Cognitiva - e será a partir de tal personagem com tanto brilho intelectual que o roteiro vai comover o espectador através da decadência cognitiva que ela vai sofrer por conta da demência precoce.

O enredo foi adaptado de um dos romances de ficção de uma neurocientista, Lisa Genova, que, por esta atividade, deve ter se preocupado com a precisão dos dados que colocou na história quanto ao atual estágio de conhecimento científico sobre a doença que a personagem vai desenvolver paulatinamente. Ainda que, no caso especial do tipo de Alzheimer, rapidamente. Mesmo que a realização não pese a mão no melodrama, há cenas suficientemente comoventes no roteiro às quais Julianne empresta a verossimilhança devida, especialmente nas fases da doença em que sua consciência do que lhe acontece está preservada.

Como a academia de Hollywood tem uma queda por atores em papéis de doentes e/ou incapazes, há alguns anos a atriz Julie Christie esteve bem cotada para levar um Oscar por um filme que também girava em torno de uma mulher com a mesma doença de Alzheimer (Longe dela, 2006, de Sarah Poley). Mas Marion Cotillard estava em seu caminho revivendo Piaf e o prêmio foi para a francesa. Curiosamente, Marion também foi indicada ao Oscar neste mesmo ano que corre por Dois dias, uma noite, dos irmãos Dardenne, mas a tendência de premiar atores que fazem personagens com alguma deficiência prevaleceu. Marion faz mais com menos no filme dos Dardenne, mas claro que não há cinéfilo que julgue indevido um prêmio de interpretação tão visado para Julianne: ela já poderia ter levado Oscars e mais Oscars para casa desde 1998 quando foi indicada por Boogie Nights - mas a escolhida foi Helen Hunt (sem comentários); a sutileza de sua composição para Fim de Caso também foi preterida em 2000 pela personagem travestida de Hillary Swank em Meninos não choram, sendo que em 2003, mesmo com duas indicações, por As Horas (como coadjuvante [?]) e por Longe do Paraíso, os prêmios foram para o nariz de Nicole Kidman, também por As Horas no segundo caso, e para as pernas de Catherine Zetta-Jones em Chicago no primeiro.

É verdade que desde então, a maioria dos filmes em que esteve era de nível muito inferior ao seu talento; e nos melhores, sua participação era menos importante e/ou menos duradoura na tela. E é difícil imaginar o que seria deste filme sem ela, sua maior recomendação. Pois como já foi dito, a felicidade da família antes da doença (por mais que suas filhas não apareçam tão amigas) e a excelência intelectual da personagem são truques fáceis para levar a plateia a lamentar especialmente a desgraça da doença para Alice.

Um sub-enredo pouco desenvolvido parece ter sido pensado para a personagem de Kristen Stewart, a filha que traz preocupações aos pais bem estabelecidos em suas profissões universitárias pelo fato desta filha seguir uma carreira tão “instável” como a de atriz de teatro...

ATENÇÃO: SPOILER

...e um certo grau de fracasso espelhado em poucas oportunidades nos palcos é o que poderá levar esta filha a ficar mais próxima da mãe quando esta estiver menos capaz de se cuidar e o o pai precisar tocar a vida adiante. Irônica arrumação do roteiro em um filme que serviu para oscarizar uma atriz extraordinária como Moore - e tão bem sucedida - com ou sem Oscars.

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário