Críticas


CASA GRANDE

De: FELLIPE BARBOSA
Com: THALES CAVALCANTI, MARCELLO NOVAES, SUZANA PIRES, CLARISSA PINHEIRO, BRUNA AMAYA.
20.04.2015
Por Luiz Fernando Gallego
Tentando evitar estereótipos preconceituosos sobre a classe média, o filme parte de um microcosmo familiar para retratar o país.

Casa Grande, estreia de Fellipe Barbosa na direção em filme de longa metragem, parte de personagens de classe média alta para enfocar os modos de relação destes com os de outras classes sociais menos favorecidas, especialmente com os empregados da mansão onde residem Hugo (Marcello Novaes), sua mulher (Suzana Pires) e dois filhos: um rapaz de 17 anos, Jean (Thales Cavalcanti) e uma moça de 14. Vemos também uma empregada, Rita (Clarissa Pinheiro), um motorista e uma cozinheira.

Aos poucos a esposa, o filho - e o espectador - vão se dando conta de que a situação financeira de Hugo é cada vez menos confortável, sendo que o roteiro aproveita a derrocada das empresas de Eike Batista para situar pelo menos parte das perdas de Hugo. A instalação do sistema de cotas em Universidades públicas é superposta em uma condensação temporal com esse escândalo econômico mais recente, dando margem à discussão de uma das preocupações de Jean, prestes a enfrentar o vestibular, embora ele estude em um dos melhores colégios particulares (e católico, apenas para meninos) do Rio. A menina com quem ele começa uma paquera, Luiza (Bruna Amaya), é do Pedro II (escola pública) e pode se beneficiar do sistema de cotas. Sua outra preocupação prevalente é o início da vida sexual, parecendo mais à vontade neste terreno com o motorista e com a empregada. Se inicialmente percebemos que Jean repete frases e conceitos de seu pai junto aos colegas de colégio, ao longo do filme o relacionamento deles poderá sofrer algumas fissuras.

Alguns desenvolvimentos do roteiro não são plenamente satisfatórios (por exemplo, há certo grau de proselitismo discursivo quanto ao assunto cotas), mas a direção consegue manter aguçado o interesse da plateia pelo modo espontâneo como capta e retrata personagens e situações, com destaque para as boas interpretações obtidas de todo o elenco. Thales Cavalcanti e Bruna Amaya surgem ótimos, e não só por terem mais oportunidades, pois todos os colegas do rapaz aparecem de modo natural e realista. Aliás, o naturalismo das interpretações dos jovens atores neste filme não tem nada a ver com o “naturalismo-rede-globo/malhação" e com isso é favorecida a identificação de quem está assistindo o filme com os garotos, jamais caracterizados como meros “playboyzinhos”. Um trunfo do filme é essa tentativa de não estereotipar de modo preconceituoso a classe média - como aconteceu no superestimado O Som ao Redor - mesmo que nem sempre isso seja conseguido plenamente, o que interfere um pouco no rendimento dos atores adultos - ainda que Marcelo Novaes consiga driblar bastante as armadilhas de um personagem menos modulado. O mesmo se dá com Clarissa Pinheiro como 'Rita'.

Partindo de um microcosmo familiar e sua rede de relacionamentos, o filme consegue atingir uma dimensão mais ampla como retrato do Brasil atual.















































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Outros comentários
    4096
  • ivan
    21.04.2015 às 10:11

    Belo texto, viva o cinema brasileiro!
  • 4097
  • ivan
    21.04.2015 às 10:12

    O som ao redor é uma verdadeira obra-prima e merece todos os prêmios e elogios!