
Quem assistiu, há uns sete anos atrás, Vocês, os vivos, do mesmo diretor sueco, Roy Andersson, não terá muitas surpresas ao ver este Um Pombo Pousou num Galho Refletindo sobre a Existência (Leão de Ouro em Veneza 2014). São os mesmos planos fixos com cenários que ficam no limite entre o hiper-realismo, o oniróide e o "teatral" com ambientes que lembram/sugerem as décadas de 1940, ‘50 ou ’60.
As cores surgem em tons esmaecidos, quase monocromáticos, e os ambientes interiores, como salas ou quartos, muitas vezes mostram portas ao fundo dando para outros cômodos que apenas entrevemos; lojas comerciais têm amplas vitrines para ruas praticamente desertas; e as ruas podem ter vitrines largas que exibem - parcialmente - o interior das lojas ou restaurantes. Também há corredores com várias portas em perspectiva. Ou seja: há quase sempre um insólito - e ao mesmo tempo simples - efeito de profundidade nas cenas. Estas, mostram várias vezes os mesmos personagens ou situações, praticamente todas tragicômicas - não no sentido da gargalhada, mas do riso amarelo. Cada cena não mantém necessariamente continuidade com a seguinte, um pouco como esquetes independentes, havendo, entretanto, pequenos "enredos" (se podemos assim dizer) que se desenvolvem mais à frente - ao lado de vários outros "quadros" que surgem uma única vez.
Chamam mais a atenção os personagens que reaparecem, como o de uma professora de dança espanhola, mais para cheinha e menos jovem que seus alunos, especialmente do que um deles com o qual, a todo o momento, ela tenta um contato mais íntimo - enquanto o rapaz rejeita o contato "extra" com a insistente mestra. E os dois depressivos vendedores de “divertimentos” (tão antiquados como dentes de vampiros ou sacos de risadas) que reaparecem mais vezes do que os demais.
Já a inserção anacrônica de infantaria e cavalaria do Rei Carlos XII - da Suécia (o qual pouco significa para nós de outros países) em um bar de aspecto anos 1950, desperta curiosidade pelo inusitado, mas não sustenta o interesse, problema do filme como um todo, à medida que sua duração se estende por quase 100 minutos com as mesmas situações - ou outras parecidas quanto ao clima melancólico e de amargo humor.
O desfile insólito e de um surrealismo em clave menos gritante do que ficamos mais acostumados com Buñuel ou Dalí (talvez mais associado a algumas coisas de Magritte, mesclando o inusitado ao prosaico) começa muito bem, especialmente nas três primeiras cenas ligadas à morte, mas a proposta se revela repetitiva para um longa metragem. Ou para três longas, já que este seria o desfecho de uma trilogia.