Críticas


VILA, A

De: M. NIGHT SHYAMALAN
Com: JOACHIN PHOENIX, ADRIEN BRODY, BRYCE DALLAS HOWARD
15.09.2004
Por Daniel Schenker
CINEMATOGRÁFICA REDOMA DE CRISTAL

A estratégia de pedir diretamente para que os desfechos de determinadas produções não sejam revelados é um recurso bastante antigo que, se por um lado atiça a curiosidade e contabiliza a volta de alguns espectadores “agora que sabem a verdade”, por outro reduz o filme a uma surpresa. O expediente está sendo utilizado em A Vila e, mesmo que este trabalho possua mais méritos do que uma eventual sacada de mestre, não será aqui que “o encanto” se quebrará. Em todo caso, não é preciso chegar ao terço final para perceber que M. Night Shyamalan (também presente numa rápida aparição como ator) fala da impossibilidade de superar perdas dolorosas e da ânsia em preservar a inocência num mundo tão repleto de sofrimento.



Procurando instalar, desde a abertura, uma atmosfera sinistra, o cineasta fornece sinais externos suficientes para causar frio na espinha das personagens – e talvez de parte da platéia. Mas o principal reside na tensão entre o medo que existe dentro de cada um e a atração pelo oculto, pelo interditado. Não é à toa que a câmera de Shyamalan registra imagens de ambientes internos captadas do meio externo ou vice-versa (fotografia de Roger Deakins). Extremamente bem filmado, A Vila faz uma afirmação do cinematográfico, evidenciando para o público a importância, por exemplo, do trabalho de som na construção do suspense, sem incorrer na armadilha do artificialismo.



Um domínio das ferramentas bem acima do freqüente emprego funcional, ainda que o diretor não deixe de incorrer em convenções, a exemplo da maneira como insere o humor (num corte tradicional entre uma cena de declaração amorosa e a seguinte, marcando a reação lamentosa diante da recusa) e como encaminha figuras que, apesar de não obedecerem por completo ao desenho-padrão de bom e mau, ganham os destinos normalmente reservados a heróis e antagonistas. Além disso, A Vila é, como muitos, um filme romântico e Shyamalan não hesita em dotar o resultado de um caráter – aí, sim, artificialmente – transcendente.



Tangenciando a importante questão da necessidade de ser salvo, o cineasta investe em personagens pulsantes no íntimo mas dotadas de existências abortadas, renunciadas e confinadas numa aconchegante e, ao mesmo tempo, asfixiante vila fim de linha. Uma redoma de cristal inevitavelmente ilusória (e, num certo sentido, cinematográfica), espécie de Dogville onde todos permanecem à espera de que seus medos sejam desmascarados. Uma tarefa de peso que recai sobre a destemida Ivy Walker (Bryce Dallas Howard, bastante expressiva), mobilizada ao ver a vida de Lucius Hunt (Joachin Phoenix), aquele que até ali sempre a conduziu, em risco.



# A VILA (The Village)

EUA, 2004

Direção e Roteiro: M. NIGHT SHYAMALAN

Produção: SAM MERCER, SCOTT RUDIN e M. NIGHT SHYAMALAN

Trilha Sonora: JAMES NEWTON HOWARD

Fotografia: ROGER DEAKINS

Direção De Arte: MICHAEL MANSON e CHRIS SHRIVER

Elenco: JOACHIN PHOENIX, ADRIEN BRODY, BRYCE DALLAS HOWARD, WILLIAM HURT, SIGOURNEY WEAVER.

Duração: 115 minutos

Site Oficial: http://thevillage.movies.go.com

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