Críticas


PARTY GIRL

De: MARIE AMACHOUKELI, CLAIRE BURGER, SAMUEL THEIS
Com: ANGÉLIQUE LUTZENBURGER, JOSEPH BOUR, MARIO THEIS, SAMUEL THEIS.
07.08.2015
Por Luiz Fernando Gallego
O que será verdade e o que será ficção em cenas que evocam o naturalismo de Mike Leigh ou mesmo filmes de Cassavetes?

Dirigido por duas mulheres e um homem, o roteiro de Party Girl também foi escrito pelas mesmas seis mãos e inspirado na mãe do único homem do trio que realizou o filme. Ela é Angélique Litzenburger - que faz o seu próprio papel.

O co-diretor e co-roteirista Samuel Theis também aparece no filme no papel de ‘Samuel’, assim como suas irmãs, Séverine e Cynthia, ambas Litzenburger, e outro irmão, Mario Theis. Todos estes interpretam a si próprios com seus próprios nomes, e de modo surpreendente, pois nem sempre o melhor intérprete da pessoa em uma recriação de sua vida é ela mesma. O que será verdade e o que será ficção no enredo do filme?

Angélique é uma mãe diferente de qualquer modelo maternal idealizado: trabalha em cabaré aos 60 anos de idade, gosta do que faz, da vida boêmia, de festas: é uma “party girl ”, ainda que seja uma “old girl ”. A inesperada proposta de casamento vinda de um cliente do cabaré, de nome Michel (vivido por Jospeh Bour, que, como quase todos os demais nunca esteve à frente das câmeras anteriormente) é o gancho para o fio de enredo se desenvolver em situações cotidianas e desdramatizadas – ou com o que já existe de dramático em (in)comuns vidas comuns - como a de Angèlique.

Os diálogos surgem com enorme espontaneidade, podendo evocar cenas de filmes de Mike Leigh quando as pessoas conversam em torno de uma mesa, por exemplo. Mas se alguém se lembrar de filmes de John Cassavetes também terá motivos para tal.

Angélique (a personagem? ela mesma?) parece ser uma força viva capaz de atropelar - com seus desejos, inseguranças e incertezas - os que lhe são próximos, mas nem por isso seus filhos deixam de girar em torno dela – que se define como uma “mariposa noturna”.

Produto da chamada "cultura do espetáculo”? Equivalente aos famigerados “reality shows”? A diferença é que o que bate na tela se mostra capaz de manter o interesse do espectador - que dificilmente ficará indiferente a essa senhora, apreciando ou não suas atitudes.

O prêmio recebido na mostra Um Certain Regard de Cannes 2014 é daqueles que parecem plenamente justificados.

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