Críticas


FESTIVAL DO RIO 2004: OLGA BENARIO

De: GALIP IYITANIR
25.09.2004
Por Ricardo Cota
OLGA BINÁRIO

É raro ver filmes sobre o mesmo tema chegarem quase concomitantemente às telas de cinema. Mais raro ainda quando o tema não está na ordem do dia, como é o caso da trágica história de Olga Benário. No Brasil, Olga caiu na boca do povo desde que a versão romanceada de Jayme Monjardim arrastou milhões às salas de exibição. Lá fora, Olga ganhou versão documental em produção alemã dirigida pelo turco Galip Iyitanir.



Embora os gêneros sejam distintos, há entre os filmes muitos pontos em comum. Orientados pelo livro de Fernando Morais - até hoje a mais valiosa obra de referência sobre a militante comunista – ambos os trabalhos realçam os mesmos aspectos da vida da personagem: a formação familiar, a militância política, a viagem idílica com Prestes, a iniciação sexual do Cavaleiro da Esperança, a prisão, a gravidez, o envio para o campo de concentração, a separação da filha e a morte na câmara de gás. Como se não bastasse a sincronia, as poucas seqüências ficcionais da produção alemã, repetem situações presentes no filme brasileiro. Na versão em Dvd, o filme de Galip poderia ser um extra do de Monjardim. E vice-versa. A diferença é que enquanto um parece uma novela, o outro lembra um Globo Repórter.



As duas abordagens sofrem de limitações, ainda que em sinais contrários. Enquanto o filme de Monjardim é realizado num tom impostado, teatral, exagerado, que culmina na já antológica, pelo seu ridículo, cena em que Olga esbraveja: “Eu estou grávida de Luiz Carlos Prestes”; Olga Benário – Uma Vida Dedicada à Revolução deixa a desejar pela frieza e desequilíbrio do registro. O filme mescla repentes nordestinos, reconstituições históricas canhestras, depoimentos redundantes, como o do próprio Fernando Morais, e uma documentação burocrática. Resumindo, além da escorreita pronúncia alemã do jornalista William Waack, não há qualquer revelação digna de registro.



Ao término, o documentário lembra que Olga tornou-se nome de escolas, ruas, galerias, festivais e, agora, objeto de dois filmes. Nada mais merecido. Em se tratando de cinema, no entanto, talvez seja hora de dar um descanso à memória da trágica militante comunista.



#OLGA BENÁRIO – UMA VIDA PELA REVOLUÇÃO (OLGA BENARIO – EIN LEBEN FUR DIE REVOLUTION

Alemanha, 2003

Direção:GALIP IYITANIR

Roteiro: MARGRIT SARTORIUS, JULIAN BOYD, MICHAEL PUTSCHLI, OLIVER BETKE

Fotografia:RALF KAECHELE e CHRISTIAN FIENGA

Montagem:BARBARA HOFMANN

Música:PHIREFONES

Duração:92 minutos

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário