Críticas


MOSTRA SP 2004: NA CIDADE VAZIA

De: MARIA JOÃO GANGA
Com: ROLDAN JOÃO, DOMINGOS FERNANDES FONSECA, RAÚL ROSÁRIO
23.10.2004
Por Daniel Schenker
INSTANTES INSPIRADOS DE UM CINEMA AINDA FRÁGIL

À procura da imagem de seus mortos, N´Dala peregrina pelas desoladas ruas de Luanda, no início da década de 1990. Fugindo da companhia das freiras, encarregadas de acompanhar crianças que também tiveram os pais dizimados na Província do Biè, o garoto palmilha uma geografia desconhecida. Na Cidade Vazia , produção luso-angolana assinada por Maria João Ganga, flagra a jornada do pequeno N´Dala, que vai se deparando com pessoas dispostas a ajudar, apesar de, como legítimo aprendiz de Pixote, acabar sucumbindo quase que inevitavelmente a toda degradação à sua volta. Lançando um olhar, em alguma medida, esperançoso em relação ao ser humano, o filme, porém, não deixa de sublinhar a sua nota amarga.



Maria João Ganga ensaia um refinamento ao tentar entrecruzar planos diversos, em especial a andança de N´Dala e a trajetória de Ngunga, figura encarnada por Zé, novo amigo do menino, no teatro da escola. “Personagem real” e “personagem ficcional” anseiam por “conhecer o mundo e saber se em todas as partes os homens são iguais – só pensando neles”. Há uma inegável ingenuidade nesta construção, apenas uma das evidências de um filme bem intencionado mas ainda rudimentar, que volta a bater numa tecla conhecida: a perda da inocência no confronto com a realidade adversa. Mesmo assim, Na Cidade Vazia traz, vez por outra, belos instantes, a exemplo da cena em que N´Dala molha seu rosto no mar. Fica também o registro do esforço da cineasta, que levou muitos anos para conseguir filmar em Luanda.





# NA CIDADE VAZIA

Angola/Portugal, 2004

Direção: MARIA JOÃO GANGA

Elenco: ROLDAN JOÃO, DOMINGOS FERNANDES FONSECA, RAÚL ROSÁRIO

Duração: 90 min.





Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário