Aparentemente, Temporada de Patos é um filme realizado a partir do nada. O diretor Fernando Eimbcke reúne quatro personagens – dois garotos, Flama e Moko, uma adolescente, Rita, e um entregador de pizza, Ulises – num apartamento de um conjunto habitacional isolado e com sinais externos de abandono. Nenhum deles (a não ser Ulises, em horário de expediente) tem algo de relevante para fazer. Parecem querer apenas matar o tempo juntos.
No entanto, há muito por trás deste falso vazio. Uma impressão potencializada pela própria estrutura do filme, formada por cenas intercaladas por blackouts. Não é por acaso: existe sempre algo entre as imagens (e também nelas mesmas) que não é revelado diante do espectador. Não no sentido de intriga, mistério, suspense. Ao mesmo tempo mais simples e mais complexo do que isto, trata-se de uma questão de entrar na onda.
Tendo a espontaneidade como senha, Temporada De Patos evita enveredar pela seara dos filmes que se valem de uma perspectiva superficial para descortinar profundos estados de alma. Lembranças (o extermínio de cachorros, função anteriormente exercida por Ulises), fatos do momento geradores de repercussão interna (o processo de separação dos pais de um dos meninos), analogias pessoais e devaneios com um mundo melhor (“Todos os patos voam juntos com a força do vôo compartilhado. Quando um se cansa, outros dois saem com ele até que se recupere ou caia”, diz Ulises) até vêm à tona. Mas Fernando Eimbcke optou por (com)provar como um vasto mundo dotado de percepções específicas pode nascer da (aparente) falta de propósitos. Basta estar aberto para o que vier. Talvez Temporada De Patos seja, em resumo, sobre deixar acontecer.
# TEMPORADA DE PATOS (Temporada de Patos)
México, 2004
Direção: FERNANDO EIMBCKE
Elenco: DIEGO CATAÑO, DANIEL MIRANDA, DANNY PEREA, ENRIQUE ARREOLA
Duração: 85 min.
