Para resumir Love, a nova tentativa de escândalo de Gaspar Noé, basta imaginar que interesse o filme despertaria sem as cenas de sexo explícito. A resposta é simples: pouco ou nenhum.
Sem a aura de escândalo - aliás, frustrada pelas vaias que recebeu em todas as sessões em que foi exibido no Festival de Cannes - o enredo se resume a uma banal história dita “de amor” entre três pessoas que não deram certo em seus relacionamentos mútuos.
Nada contra ficções que tentem recriar (com talento e algo a acrescentar) "a vida como ela é", só que aqui tudo é prosaico e sem maior dimensionamento: um homem jovem e uma mulher idem se envolvem afetivamente, querem e gostam de transar, ótimo (e tome transa!); surge a fantasia de ménage à trois por parte do casal (e tome transa!); o homem curtiu a terceira parte do triângulo e fica seduzido por uma “tradicional” à dois (e tome transa!), camisinha arrebenta (e para mostrar o acidente...tome transa!); rola gravidez e paternidade indesejada porque a mocinha é contra abortar (e aí não vai rolar mais transa...); homens jovens e algo machistas não resistem a uma periguete querendo uma rapidinha (e tome transa!) etc.
O que não é prosaico é o nome de uma personagem, ‘Electra’ – tá bom, tem maluco pra tudo, mas imagine colocar numa filha o nome de quem incentivou o assassinato da mãe. O “enredo”, por sinal, começa com a mãe de Electra ligando para seu ex, Murphy, agora casadinho com a jovem ‘Omi” (cada nome!) com quem tem um bebê, à procura da filha (ou temendo que a mesma vá atrás dela para mata-la? – brincadeirinha, rs rs)
Também escapam ao prosaico banal-pornô (tipo hidráulico ou bate-estaca) - justiça seja feita - as cenas de sexo, que até podem lembrar o sexo comum do comum dos mortais... ainda quem em tons de vermelho que cansam a vista tanto quanto os óculos 3-D que escurecem ainda mais as imagens. Falando nisso: por que rodar este filme em 3-D? Para mostrar um pênis de frente para o espectador ejaculando? Bem, isso já lembra pornô-chulo...
Realizador de outro filme de escândalo sex-exploitation (mesmo que não explícito), Irreversível, o diretor nunca tem muito a dizer mas gasta muito tempo (mais de duas horas neste Love) para não dizer nada. Os poucos toques pretensamente “espertos” não ultrapassam o mau hálito intelectual do pretenso cineasta.
As vaias em Cannes não devem ter sido moralistas, mas pelo filme não ter nada a exibir além das cenas de sexo explícito fora da levada de filmes pornô. Quem tiver curiosidade, vá. Por conta e risco.