Críticas


LOVE

De: GASPAR NOÉ
Com: KARL GLUSMAN, AOMI MUYOCK, KLARA KRISTIN
10.09.2015
Por Luiz Fernando Gallego
As vaias em Cannes não foram moralistas, mas por não ter nada a exibir além de cenas de sexo explícito fora do formato pornô.

Para resumir Love, a nova tentativa de escândalo de Gaspar Noé, basta imaginar que interesse o filme despertaria sem as cenas de sexo explícito. A resposta é simples: pouco ou nenhum.

Sem a aura de escândalo - aliás, frustrada pelas vaias que recebeu em todas as sessões em que foi exibido no Festival de Cannes - o enredo se resume a uma banal história dita “de amor” entre três pessoas que não deram certo em seus relacionamentos mútuos.

Nada contra ficções que tentem recriar (com talento e algo a acrescentar) "a vida como ela é", só que aqui tudo é prosaico e sem maior dimensionamento: um homem jovem e uma mulher idem se envolvem afetivamente, querem e gostam de transar, ótimo (e tome transa!); surge a fantasia de ménage à trois por parte do casal (e tome transa!); o homem curtiu a terceira parte do triângulo e fica seduzido por uma “tradicional” à dois (e tome transa!), camisinha arrebenta (e para mostrar o acidente...tome transa!); rola gravidez e paternidade indesejada porque a mocinha é contra abortar (e aí não vai rolar mais transa...); homens jovens e algo machistas não resistem a uma periguete querendo uma rapidinha (e tome transa!) etc.

O que não é prosaico é o nome de uma personagem, ‘Electra’ – tá bom, tem maluco pra tudo, mas imagine colocar numa filha o nome de quem incentivou o assassinato da mãe. O “enredo”, por sinal, começa com a mãe de Electra ligando para seu ex, Murphy, agora casadinho com a jovem ‘Omi” (cada nome!) com quem tem um bebê, à procura da filha (ou temendo que a mesma vá atrás dela para mata-la? – brincadeirinha, rs rs)

Também escapam ao prosaico banal-pornô (tipo hidráulico ou bate-estaca) - justiça seja feita - as cenas de sexo, que até podem lembrar o sexo comum do comum dos mortais... ainda quem em tons de vermelho que cansam a vista tanto quanto os óculos 3-D que escurecem ainda mais as imagens. Falando nisso: por que rodar este filme em 3-D? Para mostrar um pênis de frente para o espectador ejaculando? Bem, isso já lembra pornô-chulo...

Realizador de outro filme de escândalo sex-exploitation (mesmo que não explícito), Irreversível, o diretor nunca tem muito a dizer mas gasta muito tempo (mais de duas horas neste Love) para não dizer nada. Os poucos toques pretensamente “espertos” não ultrapassam o mau hálito intelectual do pretenso cineasta.

As vaias em Cannes não devem ter sido moralistas, mas pelo filme não ter nada a exibir além das cenas de sexo explícito fora da levada de filmes pornô. Quem tiver curiosidade, vá. Por conta e risco.

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Outros comentários
    4169
  • João Paulo
    05.10.2015 às 15:03

    (...) Em uma entrevista a respeito de "O Desprezo", nos anos 60, Godard comentou que 'a crítica não é uma criação artística, é sempre algo inferior e por isso 75% dos críticos só estão nessa profissão temporariamente'. E completou que é 'por isso que os críticos são sempre amargos e tristes frente àqueles que eles honram e eles depreciam'. Dá para levar à sério a crítica de cinema? Nos anos 70, a mesma crítica que hoje desprezam filmes como "Love", "Ninfomaníaca", "9 Canções" e "Intimidade" desprezava "O Último Tango em Paris". Não é irônico? Hoje o filme de Bertolucci é louvado como uma obra-prima do cinema. Futuramente o mesmo deve acontecer com os filmes do Noé, Chéreau e Winterbottom...
    • 4170
    • Luiz Fernando Gallego
      05.10.2015 às 21:43

      O leitor confunde filmes que tem cenas ousadas de sexo com filmes obrigatoriamente bons que teriam sido rejeitados quando foram lançados.Mas está equivocado ao colocar filmes de qualidades tão díspares no mesmo saco de gatos. E desinformado no que diz respeito, por exemplo, a "O Último tango em Paris" que nunca foi "desprezado" pela crítica quando lançado. Ao contrário, hoje em dia é que algumas partes do filmes relativas ao personagem de Jean-Pierre Léaud é que são consideradas datadas por parte da crítica, mas o filme em si mesmo permanece bem considerado como sempre foi. Do mesmo modo, "Intimidade", de Patrice Chéreau, não foi mal recebido quando de seu lançamento. Colocar as obras de Bertolucci ou de Chéreau no mesmo plano do que fizeram/fazem Gaspar Noé, Witerbotton e von Trier é não separar o joio do trigo só porque teriam em comum "ousadias" sexuais. Godard disse que escrever sobre filmes era uma forma de fazer cinema. Muitos grandes críticos semrpe foram apenas críticos. A parte inicial do comentário, apenas ofensiva e sem argumentos, foi retirada pois não merece resposta.