Esta produção russa de tom GLS, dirigida a quatro mãos por um homem e uma mulher (ambos estreantes), é mais uma demonstração de como leveza e aparente despretensão em obras de arte revelam caráter dúbio, ajudando e atrapalhando o resultado final. O triângulo amoroso de Você Que Eu Amo gira em torno de uma apresentadora de telejornal, um publicitário e o jovem ingênuo (de uma das antigas repúblicas consideradas periféricas, que formavam a URSS) que tenta se dar bem na cidade grande, e pelo qual o publicitário se enamora.
O argumento propício a diferentes gêneros de cinema, se desenvolve como uma boa comédia romântica na primeira metade, na qual o que se convencionou chamar de linguagem publicitária, tanto em estilo físico, de narração, quanto em tipologia de personagens, tem uso pertinente, em que puerilidade e ironia se alternam mostrando as confusões sentimentais atuais, a mistura de excitação, fugacidade e deslumbramento. Essa ingenuidade e humor também têm claras influências do universo das canções pop sobre amor; até aí, os engenhos utilizados funcionam e mantêm de pé uma obra que não se preocupa em nenhum momento, com uma progressão psicológica crível na dramaturgia (tudo acontece muito rápido e fácil), e que não aspira realismo no que expõe.
As brincadeiras com o mundo da publicidade são óbvias, porém boas, os detalhes anedóticos do roteiro são eficientes (a compulsão da moça), e até de valor satírico real (a menina na banheira que fala ao locutor de rádio), o andamento de algumas cenas à lá clipes musicais é adequado. Mas do meio para o final, essa leveza e despretensão aparente acabam alienando a própria e eventual sapiência, primeiro, pelo acúmulo de acontecimentos (o filme só tem 83 minutos), segundo, pela presença da família do rapaz, que é contra a opção sexual do cara. Ainda que esta presença familiar não quebre a estrutura narrativa, pois essa rejeição é tratada mais com humor suave do que com drama forte, a presença deste núcleo leva o filme a evoluir mal e apresentar uma situação boba dentro da trama, resolvida com o comodismo de uma elipse temporal. Que leva a um fim tão abrupto, quanto utópico na resolução, fechando obra que prometia mais do que acaba mostrando como produto final.
# VOCÊ QUE EU AMO (Ja Ljubllu Tebja)
Rússia, 2004
Direção: OLGA STOLPOVSKAYA e DMITRY TROITSKY
Roteiro: OLGA STOLPOVSKAYA
Elenco: DAMIR BADMAEV, LUBOV TOLKALINA, EVGENY KORYAKOVSKY,IRINA GRINEVA
Duração: 83 min.