O filme de Fernando Meirelles e Kátia Lund foi um marco nacional e internacional do cinema brasileiro e nutriu uma geração de novos atores e profissionais da área. Mas daí a ser um toque de Midas na vida da garotada pobre que dele participou vai uma distância considerável – que, aliás, nenhuma obra de arte consegue ou precisa eliminar. Avaliar essa distância é o que faz esse documentário de Cavi Borges e Luciano Vidigal, nascido a partir de uma ideia original da jornalista Maria do Rodsário Caetano. Entre os muitos exames possíveis dos efeitos de Cidade de Deus, escolheu-se aquele exercido sobre os jovens atores vindos da favela.
Usando basicamente depoimentos frontais para a câmera, o filme mapeia o choque cultural provocado pelo filme, as expectativas ingênuas de alguns, a aplicação do dinheiro recebido como cachê, o aproveitamento maior ou menor da grande oportunidade e a dura ingerência do ambiente circundante nos sonhos dos moleques. Após um início “excitante” que evoca CDD em Cannes, é como se o filme fosse aos poucos caindo na real, culminando com um libelo contra a desigualdade racial na sociedade brasileira – algo que me soa discutível quanto à adequação a este documentário.
A dificuldade em “sair” de CDD parece ter sido tão grande quanto a dificuldade em “ficar” na bolha dourada do grande sucesso. O encontro desajeitado entre Seu Jorge, hóspede de um hotel de luxo, e Felipe Paulino, o menino que levava o tiro no pé e 10 anos depois era aprendiz de hotelaria no mesmo estabelecimento, condensa muito bem essas encruzilhadas que tanto projetam astros como produzem pixotes.