Críticas


HIPÓCRATES

De: THOMAS LITTI
Com: VINCENT LACOSTE, REDA KATEB, JACQUES GAMBLIN
12.11.2015
Por Luiz Fernando Gallego
Boas interpretações para temas polêmicos em roteiro hábil e direção acadêmica.

Hipócrates é dirigido por Thomas Lilti, roteirista e cineasta também formado em medicina – e que deve saber do que está falando sobre a medicina francesa. Nada muito diverso do que sofremos por aqui com falta de verbas, infraestrutura e pessoal, mas chega a ser chocante que um dos elementos da trama seja relativo a um aparelho de eletrocardiograma quebrado (sendo uma única máquina dessas para todo um hospital geral). Quem assina este texto também trabalhou como médico em hospital público no Rio e por isso achou mais parisiense do que, pelo menos, carioca, a zorra das festinhas dos internos no próprio ambiente hospitalar (e para nós, não seriam “internos”, mas “residentes” porque são médicos já formados; aqui usamos o termo “interno” para sextanistas de Medicina). Assim como as imagens pornográficas explícitas grafitadas nas paredes do refeitório não me parecem que façam parte do nosso cotidiano hospitalar brasileiro.

No mais, os sofrimentos éticos do personagem central, o recém-formado de 23 anos, Benjamin, e de seu colega argelino mais velho, Abdel, talvez sejam universais. No papel deste último o ótimo Reda Kateb levou um César de melhor ator coadjuvante, mas Vincent Lacoste também aparece muito convincente como jovem “interno” e filho de um chefe de Clínica do mesmo hospital.

Do ponto de vista estritamente cinematográfico, o filme é bem acadêmico, mas o roteiro hábil e com temas polêmicos - como reanimar ou não pacientes idosos com doença terminal, e os cuidados profissionais pouco minuciosos para pacientes de extratos sociais mais inferiores (como alcoólatras reincidentes, no caso) - pode mobilizar bastante o público, ainda que em direções díspares: havia um clima “favorável” à trama na plateia da sessão em que vi o filme (em festival), mas não poucas pessoas saíram da sala de projeção durante alguns procedimentos médicos, como o de punção lombar - embora o filme não seja absolutamente do gênero “exploitation”.

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