Críticas


PECADOS ANTIGOS, LONGAS SOMBRAS

De: ALBERTO RODRIGUEZ
Com: RAUL AREVALO, JAVIER GUTIERREZ, ANTONIO DE LA TORRE
04.12.2015
Por Marcelo Janot
Eficiente na criação de uma atmosfera de suspense, com ritmo envolvente e ótimos atores.

O primeiro mistério que “La Isla Mínima” propõe ao espectador é o de tentar decifrar seu bizarro título em português: “Pecados antigos, longas sombras”. Os outros vão sendo desvendados ao longo do thriller policial espanhol, que vem sendo exageradamente comparado com a primeira temporada da série de TV “True detective”, de Nic Pizzolatto. Ele não pode ser considerado uma cópia, pois terminou de ser rodado antes que a série estreasse, e as semelhanças, se existem no que diz respeito à ambientação (na série americana, os pântanos da Louisiana; no filme, uma península inóspita na região da Andaluzia), não vão muito além disso.

O formato de investigação criminal por dois detetives de personalidades antagônicas não é uma invenção de “True detective”. São incontáveis os filmes que já se valeram dessa estrutura, especialmente no cinema hollywoodiano, e “Pecados antigos, longas sombras” é apenas mais um desses. O diretor e corroteirista Alberto Rodriguez é muito eficiente na criação de uma atmosfera de suspense, com ritmo envolvente e ótimos atores.

Não há espaço para divagações filosóficas e dilemas psicológicos dos dois detetives como vemos em “True detective”, e mesmo assim ao final da projeção o roteiro ainda deixa algumas lacunas. Trata-se de um pequeno deslize que não chega a comprometer o resultado satisfatório como entretenimento, e tampouco ofusca o que o filme tem de melhor: o contexto político e social em que a história do desaparecimento de duas adolescentes se desenvolve. Ambientado no período logo após a transição da ditadura franquista para o regime democrático, ele revela um pedaço da Espanha ainda sob as longas sombras do medo, da miséria humana e de um horizonte ainda nebuloso pela frente. Opa, eu falei em “longas sombras”? Talvez o mistério do título bizarro comece a se desfazer. Mas os “pecados antigos” continuam duros de engolir e decifrar.

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário