Críticas


NO CORAÇÃO DO MAR

De: RON HOWARD
Com: CHRIS HEMSWORTH, BRENDAN GLEESON, BENJAMIN WALKER, BEN WHISHAW, TOM HOLLAND
20.12.2015
Por Luiz Fernando Gallego
Efeitos digitais e 3-D a serviço de embarcarmos – quase literalmente – num baleeiro sem passarmos pelas agruras dos tripulantes.

Ron Howard é um diretor execrado por parte da crítica mais pretensiosa, mesmo quando acerta - dentro de suas pretensões de filmes espetaculosos visando público & bilheteria. Em parte, a desconfiança é merecida graças a títulos bem ruinzinhos em sua filmografia, mas desde simpáticas “antiguidades” como o primeiro Cocoon (1985) até boas surpresas mais recentes como Frost /Nixon(2008) e Rush: No Limite da Emoção (2013), Howard, quando bem servido por roteiros hábeis, teve lá seus acertos. Aos quais vem se somar este No Coração do Mar, em que efeitos digitais entram de modo pertinente a serviço de recriações impactantes: são cenas de ação impossíveis de ficarem como surgem na tela, não fossem os recursos atuais de tecnologia de imagens.

O enredo pretende um encontro que poderia ter ocorrido antes de 1851 entre o escritor Herman Melville e um - já agora cinquentão, mas em 1820 bem jovem - membro de uma equipe de tripulantes que passou o diabo em alto mar três décadas antes. Esse suposto (imaginário até prova em contrário) encontro teria sido a base para Melville escrever “Moby Dick” – o livro que ‘Zelig’, (o personagem de Woody Allen no filme de '83), teve vergonha de dizer que não havia lido todo até o fim. Mas se o romance de Melville é um longo percurso até a cena-clímax, no livro-reportagem de Nathaniel Philbrick que deu origem ao filme de Howard, o clímax vem bem antes, sem que a atenção do espectador se perca na segunda metade, muito ao contrário (e a dupla Daniel Hanley e Mike Hill, montadores que trabalham sempre com Howard certamente vem colaborando com seus melhores resultados, tendo sido justamente indicados a prêmios por Rush, Frost/Nixon, etc).

Não cabe levantar alguns aspectos de incorreção factual em episódios mostrados na tela de modo diferente do que foi registrado sobre o naufrágio do navio baleeiro Essex em 1820, embora um assassinato tenha sido convertido em suicídio, o que atenua o personagem do capitão Pollard - que já havia ficado mal em cenas anteriores, mas vai se revelar partidário da verdade sobre o acontecido, ao contrário do que pretendiam os proprietários de navios baleeiros. Nesse sentido, também o personagem-herói Owen Chase (vivido por Chris Hemsowrth) é apresentado sob uma ótica mais hollywoodiana bem tradicional de filmes de aventura, o que Howard pretende sem pejo algum, evitando outras polêmicas históricas sobre o caráter de Chase.

A suspensão da descrença é o que importa para curtir o filme, especialmente em 3-D (que, aqui, também aparece como recurso tecnológico enriquecedor em vez de acréscimo sem razão de ser) para embarcarmos – quase literalmente – no baleeiro, com a vantagem de não passarmos pelas mesmas agruras de seus marinheiros.

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário