Praticamente limitado ao diálogo/embate entre dois personagens, o mais recente filme dirigido por Volker Schlondorff deixa evidente sua origem teatral e confirma o interesse do cineasta em temas ligados à II Guerra, ao nazismo e à sua pátria alemã. Desta vez, o gancho é o risco pelo qual a cidade de Paris passou quando Hitler começou a dar a guerra como perdida: se Berlim estava em ruínas, por que Paris continuaria de pé e sempre bela? Que fosse totalmente destruída! - era a ordem do Fürher.
O tema é idêntico ao de uma antiga produção francesa dirigida por René Clement, Paris está em chamas? - mas com abordagem diversa. A produção anterior, de 1966, pretendia ser um super-espetáculo de longuíssima duração com elenco estelar franco-americano, enfocando tanto o caminho das tropas aliadas rumo à capital francesa, como o diálogo entre o cônsul sueco Raoul Nordling e o general alemão encarregado de dar a ordem do tipo "solução final": explodir quase todas as pontes sobre o Sena, a catedral de Notre Dame, o prédio da Opéra, Les Invalides, a Torre Eiffel, etc.
Já o filme atual se restringe ao mais tenso que pode ter ocorrido no encontro entre o cônsul e o General Dietrich von Choltitz. No passado, Orson Welles fazia o cônsul e Gert Fröbe (conhecido como o vilão de Goldfinger), o militar. Os mesmos papéis agora são interpretados por André Dussolier - um dos atores favoritos de Alain Resnais - e Niels Arestrup - que quando jovem foi ator em O Futuro é Mulher, de Marco Ferreri, e mais recentemente levou 3 César's, o "oscar francês", ao qual foi também indicado por este Diplomacia. Eles fazem, respectivamente, os mesmos papéis mas em tonalidades bem diversas: Dussolier é mais insinuante e persuasivo do que Welles, e Arestrup consegue transmitir mais insegurança e dúvida sob a aparência firme que seu personagem pretende transmitir.
Sabemos que Paris não foi destruída, mas mesmo assim, o modo como a situação é desenvolvida pelo roteiro, diálogos e interpretações dos atores sob a direção tensa de Schlondorff pode criar algum suspense para as plateias. Sem escapar às armadilhas de “teatro filmado”, o cineasta (cuja carreira recente não corresponde aos melhores momentos do seu passado de títulos marcantes como A Súbita riqueza da pobre gente de Kombach e, principalmente, o premiadíssimo O Tambor) demonstra habilidade na condução cinematográfica da peça, ainda que dentro das limitações do formato.
Mas o que pode recomendar o filme de fato são os desempenhos dos dois veteranos atores que já haviam vivido os mesmos personagens na montagem original da peça em Paris poucos anos antes da transposição para as telas de cinema: o domínio que exibem sobre a recriação dos personagens e a vivência interiorizada da situação trazida pelo texto teatral é absoluto, uma aula matizada de grandes interpretações.