É curioso que pouca gente (ou se bobear ninguém, a julgar pelas críticas já publicadas) tenha percebido a sacada dos diretores Renato Terra e Ricardo Calil em EU SOU CARLOS IMPERIAL: para contar a vida desse personagem controverso da cultura brasileira, famoso por explorar o marketing pessoal criando factoides às custas de mentiras, eles misturaram atores entre os entrevistados que dão depoimentos. Uma espécie de “jogo de cena” inspirado em Eduardo Coutinho, que confere uma nova camada ao documentário – afinal, em se tratando de Imperial, onde nunca se sabe ao certo o que é fato e o que é lenda, é interessante que quem reconte a sua vida também deixe o espectador com essa pulga atrás da orelha.
Outra vantagem dessa opção é que um bom documentário não é feito apenas de quem tem boas histórias sobre o biografado – é preciso saber contá-las. Portanto, pouco importa se Décio Frotta é um crítico musical, um engenheiro agrônomo ou um professor de cinema, como aparece creditado a cada vez que aquele sujeito de óculos escuros sorridente fala sobre Imperial. Na verdade, Décio Frotta é o ator Luca de Castro, e o filme cresce por conta do seu jeito de contar as histórias.
O filme se beneficia também do fato de que Carlos Imperial rende de fato muito assunto: ao mesmo tempo em que não se pode ignorar a contribuição para a música brasileira de um sujeito que impulsionou as carreiras de Roberto Carlos, Elis Regina e Clara Nunes, que compôs até sambas clássicos como “Você Passa, Eu Acho Graça” em parceria com Ataulfo Alves, é de se ficar estupefato com suas pilantragens, que dificilmente aconteceriam nos dias de hoje sem que ele fosse linchado e massacrado pelos juízes da correção política que comandam os “tribunais” das redes sociais.