Críticas


PARA MINHA AMADA MORTA

De: ALY MURITIBA
Com: FERNANDO ALVES PINTO, LOURINELSON VLADIMIR, GIULY BIANCATO
08.04.2016
Por Daniel Schenker
Ainda que haja certo esgarçamento da situação-base na segunda metade, Aly Muritiba imprime atmosfera de tensão e a sustenta até a última sequência.

O longa-metragem Para Minha Amada Morta e o curta Tarântula , ambos assinados por Aly Muritiba (o segundo em parceria com Marja Calafange) e exibidos na última edição do Festival de Brasília, têm na mutilação um elemento comum. No curta, o espectador encontra personagens mutilados fisicamente; no longa, se depara com o protagonista Fernando (Fernando Alves Pinto), que, emocionalmente mutilado depois de perder a esposa, Ana (Michele Pucci), surge na tela como uma espécie de fratura exposta ambulante.



Em Para Minha Amada Morta , a mutilação não é definitiva, tendo em vista que, no decorrer da projeção, Fernando conquista a restauração. O contraste entre os estados do personagem no início e no final soa um pouco esquemático, mas o importante reside no processo. Fernando passa por uma via-crúcis, potencializada a partir do instante em que descobre que a mulher manteve um caso com outro homem, Salvador (Lourinelson Vladimir). Começa, então, a transitar da passividade da melancolia para a vingança. Não hesita em trocar a casa confortável ao lado do filho, Daniel (Vinicius Sabagg), por uma pequena moradia nos fundos do terreno de Salvador, localizado num bairro da periferia.



Fernando assume um personagem, atua diante de Salvador. Ao mesmo tempo, uma mudança genuína se opera dentro dele. Essas questões justificam a recorrência de espelhos, relevantes em algumas cenas. Aly Muritiba, que acumula a função de roteirista, revela domínio da gramática cinematográfica. Ainda que haja certo esgarçamento da situação-base na segunda metade, Muritiba imprime atmosfera de tensão e a sustenta até a última sequência. Conduz os atores com habilidade, a julgar pela interpretação econômica e bastante expressiva de Fernando Alves Pinto, que preenche as passagens com reduzida quantidade de falas, e pelos bons trabalhos de Lourinelson Vladimir e Giuly Biancato – no papel de Estela, a filha mais velha de Salvador, atriz que também marca presença em Tarântula . Cabe destacar a direção de arte de Monica Palazzo, que investe em tonalidades frias, em criação entrosada com a cenografia de Renata Rugai, e a refinada partitura de som de Alexandre Rogoski.

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Outros comentários
    4307
  • ivan
    16.04.2016 às 22:30

    CINEMA BRASILEIRO DE QUALIDADE!