Críticas


O OUTRO LADO DO PARAÍSO

De: ANDRE RISTUM
Com: EDUARDO MOSCOVIS, DAVI GALDEANO, CAMILA MÁRDILA, MAJU SOUZA, JONAS BLOCH.
01.06.2016
Por Luiz Fernando Gallego
Narrativa tradicional e eficiente com ótimos desempenhos e capaz de emocionar.

Pode parecer demasiadamente ingênuo hoje em dia, mais de 50 anos depois da época em que se passa a história de O Outro lado do Paraíso, mas Brasília já foi idealizada como se pudesse ser uma nova “terra da promissão” para pessoas humildes e interioranas. No livro do mesmo nome em que o filme é baseado, o jornalista e escritor Luiz Fernando Emediato conta a história de seu pai, um sonhador idealista, sempre em busca de meios – ou de lugares - que trouxessem chances de melhorar as condições de vida para ele e sua família.

O autor do romance aparece no filme como ‘Nando’, um pré-adolescente que vai experimentar ideais e decepções, perdas afetivas (mas também ganhos nessa mesma esfera) e, principalmente, vai conhecer frustrações sociais bem típicas da época: o governo de João Goulart e o golpe militar de 1964 que o depôs. Não seria exagero dizer que se trata de um “romance de formação” em forma de cinema: cinema de formato clássico, seguindo o estilo tradicional de contar uma história em ordem cronológica, como convém a uma narrativa que privilegia o crescimento físico e emocional de um garoto.

Além da competência da narrativa advinda do roteiro bem desenvolvido e da direção de Andre Ristum - uma direção profissional no melhor sentido do termo - o trunfo definitivo do filme está no elenco em que se destaca o menino Davi Galdeano cuja interpretação tão econômica quanto sensível já valeria o filme. Com Maju Souza, de idade próxima e que faz o papel de ‘Iara’, Davi tem excelente química. Mas por mais que os atores jovens sejam carismáticos e cativantes, Eduardo Moscovis é o ator (e o personagem, ‘Antonio’) em torno do qual os demais orbitam como um tradicional pai de família interiorana dos anos 1950/60. Mesmo que com menos oportunidades, Jonas Bloch (sogro de Antonio) marca presença, assim como Camila Márdila (que fez a filha de Regina Casé em Que horas ela volta?) – aqui, numa personagem bem mais inibida, confirmando que tem talento para compor tipos algo diversos. Embora só esteja ganhando o circuito comercial agora, O Outro lado do Paraíso” foi rodado antes.

Para as gerações que não viveram a época, o filme pode ser uma ótima iniciação sobre alguns elementos históricos, sem que haja excessos de didatismo – a não ser na narração em off, muitas vezes desnecessária e que pouco acrescenta à narrativa imagética suficiente e transparente em suas intenções. Já a fotografia de Hélcio Alemão Nagamine (o mesmo do subestimado Se Deus vier que venha armado) e a trilha musical de Patrick de Jongh (com participação vocal luxuosa de Milton Nascimento) colaboram favoravelmente para o resultado final de um filme que não quer reinventar a roda, apenas (apenas?) contar uma história bem contada e que se mostra extremamente eficiente quanto aos resultados atingidos e conforme o que se propôs, sendo até mesmo capaz de emocionar sem escorregar em pieguice.



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