Um homem idoso, viúvo, doente e que quer morrer. A empregada de uma associação que promove suicídios assistidos. Um motel decadente e prestes a fechar. No quarto ao lado, um garoto de programa recebe seus clientes.
Poderia ser uma peça teatral com ênfase no insólito, mas o roteiro foi escrito originalmente para cinema. Ainda como se fosse numa encenação para o palco, os atores são fundamentais para o resultado final e não fazem feio: Carmen Maura tem um papel que cai muito bem em sua persona cinematográfica; um veterano ator suíço, Patrick Lapp, fica com a parte mais dramática pela qual já angariou merecidos prêmios, enquanto o novato Ivan Georgiev faz muito bem o prostituto, também premiado. Mais “tipos” do que personagens plenamente desenvolvidos, ganham uma dimensão maior graças às ótimas interpretações.
Também a situação de base é mais interessante do que o desenvolvimento e menos tragicômico do que se pretendia, havendo algumas interpolações de flashbacks imaginados pelos personagens que nem sempre se encaixam tão bem no enredo mas que não chegam a prejudicar o todo.
O contraste/aproximação do trabalho de um prostituto com o de uma mulher que vai praticar a eutanásia em quartos contíguos de um motel (sexo ao lado da morte) não vai muito longe. São os atores e as boas ideias cômicas esparsas que devem manter o interesse da plateia, apesar da superficialidade prevalente que quase escorrega no sentimentalismo perto do final. As qualidades, entretanto, se sobrepõem às questões levantadas, resultando em um filme amável que deve agradar a uma boa parcela do público.