Cachimba, do chileno Silvio Caiozzi, recai em dois pecados recorrentes no cinema deste início de século (ou de milênio, se preferirem). O primeiro deles é a falta de concisão, em geral provocada por precária ou inexistente autocrítica dos próprios cineastas, ignorando a máxima de que muitas vezes “menos é mais”. A segunda, a carência de foco, que esmorece e dilui em água a ânsia de abarcar numa mesma película um sem número de questões. Inspirado no livro Naturaleza Muerta com Cachimba, de José Donoso, o filme retrata o único momento aparentemente relevante na vida de Marcos (Pablo Schwarz), um bancário de meia-idade que divide os dias entre o insípido trabalho e a ingênua namorada Hilda (Mariana Loyola). Numa viagem do casal ao litoral do Chile, ele descobre quadros de um obscuro pintor local, que havia brilhado quando mais jovem na Europa.
Entusiasmado com a possibilidade de fazer algo efetivamente “relevante”, contribuindo para a memória artística de seu país, Marcos enfrentará os burocratas da cultura oficial e os aproveitadores que a eles se somam na avidez de se apropriar das pinturas e de tudo aquilo que passam a representar. No fundo da abordagem galhofeira de Caioizzi, há uma pertinente crítica à valoração imediata e maquinária que a mídia costuma carimbar em tudo o que soe como “novidade”.
Mas, infelizmente, o diretor não se aprofunda em tal análise e insiste em investir nas demais tramas, explorando, por exemplo, as tensões que o namoro entre Marcos e Hilda provocam na família dela e a amargura do protagonista por depender de um emprego que não lhe satisfaz. Tantos fios terminam por esticar demasiadamente o filme - que chega a exaustivos 127 minutos –, e minam a força do eixo dramático principal. No fim, o espectador possivelmente lamentará que Caiozzi tenha invertido a clássica assertiva acima mencionada: o mais, em Cachimba, é menos.
#CACHIMBA (Cachimba)
Chile/Argentina/Espanha, 2004
Direção: SILVIO CAIOZZI
Roteiro: SILVIO CAIOZZI, NELSON FUENTES
Elenco: PABLO SCHWARZ, MARIANA LOYOLA, JULIO JUNG, PATRICIO CONTRERAS, JESÚS GUZMÁN
Duração: 127 min
