Críticas


SETE HOMENS E UM DESTINO (2016)

De: ANTOINE FUQUA
Com: DENZEL WASHINGTON, CHRIS PRATT, ETHAN HAWKE
23.09.2016
Por Hamilton Rosa Jr.
Uma releitura caprichada do faroeste clássico homônimo dos anos 60.

Anda circulando por aí que essa nova versão de Sete Homens e Um Destino é a roubada do ano. Se você se amarra no gênero, não acredite. O filme é uma releitura caprichada do faroeste clássico homônimo dos anos 60. No lugar de Yul Brynner, Denzel Washington, no de Steve McQueen, o carismático Chris Pratt, no de Charles Bronson, Ethan Hawke. No original, que nem era tão autêntico assim, porque tratava-se de um remake da obra-prima de Akira Kurosawa, Os Sete Samurais, ambientado no Velho Oeste, camponeses sofriam a opressão de bandoleiros mexicanos e recorriam a ajuda de sete pistoleiros. Nesta reatualização saem os mexicanos malvados e entra um barão corporativo americano capitalista até a medula (Peter Sarsgaard). Ele oprime os mineiros da cidadezinha de Rose Creek. Quando mata os resistentes locais é uma mulher (a lourinha Halley Bennett) que encabeça a insurreição. Sai atrás de pistoleiros para montar uma nova frente de resistência, e enfrenta todo tipo de zombarias. O filme original fantasiava a realidade, criando um universo mítico. Uma terra de Marlboro, onde até os proscritos tinham lá suas virtudes. As atuações magnéticas, o vigor do diretor John Sturges para construir as cenas de ação e a trilha de Elmer Bernstein eram as razões que tornaram o filme um clássico.

Esse mundo de faz de conta não se sustenta num western atual. Cientes disso, os roteiristas Nick Pizzolatto, mais conhecido como o autor da série True Detective, e Richard Wenk, optam por uma abordagem pé no chão. Ninguém em cena é inocente. O caçador de recompensas vivido por Denzel Washington, organiza a resistência não porque ficou sensibilizado com o drama dos mineiros, mas porque é conveniente: ele já estava atrás do barão. Na versão antiga, os sete homens se interessavam pelo dinheiro, mas gradualmente a recompensa se revelava fútil, e eles acabam aderindo a causa. Não há ideologia no novo filme. Estamos num mundo de individualistas e cada um tem seu propósito pessoal para se juntar ao grupo.

Antoine Fuqua nunca foi um diretor de primeiro escalão, ainda que Dia de Treinamento tenha lá seus defensores. Mas aqui ele surpreende. É formidável a forma como Fuqua compõe a movimentação dos atores criando um jogo cênico, que explora muito bem a profundidade de campo e o extracampo. E eis uma raridade: um filme de ação, em que a palavra nunca é menosprezada. Sente-se a densidade dos diálogos e as construções subitamente acidentadas que revelam verdades mais complexas.

De quebra, há ainda a participação póstuma do compositor James Horner assinando uma trilha que dialoga com o famoso score original de Elmer Bernstein (aquele usado nos velhos comerciais do cigarro mencionado acima). Pra não frustrar o espectador, a música toca no final, unindo os nostálgicos aos fãs da nova geração.

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