Críticas


A PASSAGEIRA

De: SALVADOR DEL SOLAR
Com: DAMIÁN ALCÁZAR, MAGALY SOLIER, FEDERICO LUPPI
06.10.2016
Por Luiz Fernando Gallego
Um dos melhores filmes sul-americanos recentes, desde já um dos melhores filmes do ano.

O título original privilegia o nome do personagem masculino, Magallanes, que usa o carro de um amigo como táxi além de dirigir para um velho militar já demenciado sair um pouco de casa. Magallanes e seu amigo serviram no Exército, há tempos atrás, sob as ordens deste mesmo comandante.

O título nacional privilegia a personagem feminina que entra no táxi e é reconhecida por Magallanes - que tenta evitar que ela o veja. O passado deles será desvendado ao longo do filme que tem um excelente enredo, muitíssimo bem roteirizado e dirigido de modo enxuto pelo estreante (em ambas as funções) Salvador del Solar, até então ator (como no filme “Pantaleão e as Visitadoras”, de 2000).

Sem proselitismo político, a abordagem do passado de um grupo de indivíduos remete ao passado de uma nação: o Peru quando de sua guerra contra o terrorismo, situação em que os defensores da pátria também podem incorrer em desmandos.

Prendendo a atenção do espectador sem truques banais de suspense, mas com uma tensão constante, o filme, como que em camadas, vai desvelando aos poucos quem são aqueles personagens interpretados de modo irretocável por todo o elenco. Destacam-se o mexicano Damián Alcázar no angustiado papel-título, o argentino Federico Luppi, perfeito como o coronel demente, e a peruana Magaly Solier, a passageira. As contradições de cada um também poderão surpreender o espectador a cada passo.

Colaboram para o excelente resultado a trilha musical de Federico Jusid (que também compôs para O Segredo de seus olhos e para o brasileiro Getúlio, de João Jardim) assim como a fotografia de Diego Jiménez, que capta bem os bairros pobres de Lima em contraste com casas e regiões mais favorecidas.

ATENÇÃO: SPOILER

Sem didatismos, o filme aponta para a cultura de impunidade e silêncio sobre um passado vergonhoso, comum em países sul americanos quando viveram suas ondas de governos submissos a privilégios dados aos militares na função de combater grupos terroristas. O quanto esta luta se confundiu com o que pretendiam combater é um dos temas para reflexão que este filme pode provocar.



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