Críticas


CINEMA NOVO

De: ERIK ROCHA
03.11.2016
Por Luiz Fernando Gallego
Um belo documentário poético com edição caprichada e que não deixa de ser "um filme do cinema novo" brasileiro.

Uma bela edição de várias cenas de filmes ligados ao movimento “cinema novo brasileiro” mostram personagens em corridas desabaladas. Durante algum tempo inicial do documentário de Erik Rocha, o espectador que não tiver as referências dos filmes originais poderá ficar sem conseguir acompanhar bem do que se trata; mas gravações de época de declarações dos diretores que – vale o termo – militavam fazendo Cinema no Brasil podem dar uma ideia do que Erik pretendeu retratar.

Entretanto, não deixa de ser ainda atual uma fala de Carlos Diegues sobre o paradoxo daqueles filmes que pretendiam ser populares (no sentido de retratar o povo, o Brasil, suas circunstâncias históricas e o que foi aquela época), mas não eram populares (no sentido de que o mesmo povo ali retratado não tinha interesse nestes filmes).

O aspecto utópico, “militante” e “revolucionário” (no dizer de Glauber Rocha) talvez colaborasse para que o povo não quisesse se ver de modo conflituado na tela, resultando mais no pessimismo do que na utopia, já que os ideias de esquerda haviam sido solapados pelo golpe de 1964.

O doc atual também pode frustrar quem esperava uma apresentação mais didática e cronológica de como e quando o nosso cinema novo começou. Só quem já conhece o assunto vai rever e compreender as alusões aos precursores Mário Peixoto (Limite, de 1931) e Humberto Mauro, além do pontapé inicial de Rio 40 graus de Nelson Pereira em 1955.

As plateias mais novas e menos informadas só irão saber quem era quem numa apresentação de quase todo mundo ligado ao movimento... feita por um francês em um registro documental, provavelmente para franceses. O documentário também mostra como os diretores retratados se orgulhavam da repercussão crítica que tiveram na França, em 1964, Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber, Vidas Secas, de Nelson, e Ganga Zumba, de Diegues. E como todos falavam - ou tentavam falar - em francês, em vez do inglês menos dominante na juventude daqueles cineastas oriundos, na maioria, de classes médias mais favorecidas!

Embora haja cenas de alguns filmes a cores (O Dragão da Maldade, Os Herdeiros e principalmente de Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade) não se fala deste período em que o uso de filmes a cores tanto serviria para, talvez, atrair mais o público (o que só aconteceu mesmo com o filme de Joaquim Pedro), como para atender a uma estética aproximada ou derivada do Tropicalismo - que, a rigor, Terra em Transe de Glauber já antecipara.

Por um lado, Cinema Novo não deixa de ser um filme do cinema novo, pois, como os filmes que discute, não parece que possa atrair tanto o grande público. Num certo sentido, o filme de Erik Rocha, como os do cinema novo, só atingirá a contento quem já conhece o assunto?

Por outro lado, trata-se de um belo filme que, inclusive, quebra fortes barreiras da época, mencionando cineastas paulistas como Luis Sérgio Person e até mesmo Walter Hugo Khoury (que, então, representava o antípoda do cinema novo carioca - com suas origens também baianas).





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