Críticas


PARAÍSO

De: ANDREY KONCHALOVSKY
Com: YULIYA VYSOTSKAYA, CHRISTIAN CLAUSS, PHILIPPE DUQUESNE
26.01.2017
Por Luiz Fernando Gallego
Um filme absorvente, mesmo que o desfecho seja razoavelmente previsível.

A carreira de Andrey Konchalovsky (Os Amantes de Maria, Expresso para o Inferno) é bem mais irregular do que a de seu irmão Nikita Mikhalkov (mais apreciado e conhecido entre nós por Olhos Negros), embora tenha em seu currículo um memorável Tio Vania, ainda que no já longínquo 1971.

Paraíso, seu mais recente filme, levou o prêmio de Melhor Direção no Festival de Veneza 2016, e talvez venha ser considerado um dos melhores filmes do cineasta, mesmo que não cumpra tudo o que promete a partir da forma instigante como apresenta seus personagens e enredo. Frequentemente surgem na tela, falando na direção do espectador como se estivessem sendo entrevistados por alguém que não sabemos bem quem é, dois homens (um francês, Jules e um alemão, Helmut) e uma mulher (a russa Olga). A partir de seus comentários, trechos de suas vidas durante a época do nazismo irão se desenrolando alternadamente.

Com o que acontece ao personagem Jules, fica parcialmente sugerido quem pode estar entrevistando os personagens, mas ainda de modo um tanto obscuro. Na verdade, Helmut só surge dali em diante, sendo que é sobre Olga que a ação mais se detém, embora os destinos dos três estejam entrecruzados.

O filme parece querer discutir o que seria a pretensão de um “paraíso nazista” (ilusoriamente “perfeito” dentro de suas perversas premissas) e um “paraíso comunista” de igualdade universal. Mas tal ambição não se realiza tão satisfatoriamente. A partir de determinado ponto, Paraíso vai se concentrar nas relações humanas - e desumanas - dentro de um campo de concentração nazista, ainda que a personagem central não seja uma judia, mas uma mulher que tentava proteger crianças judias na França durante a Ocupação.

A belíssima fotografia em preto-e-branco de Aleksandr Simonov e a eficiente - e não abusiva - trilha musical de Sergey Shustitskiy são outros pontos positivos, juntamente com os excelentes desempenhos do trio central de atores.

Um filme absorvente, mesmo que deixe uma certa perplexidade parcialmente frustrante no desfecho razoavelmente previsível.

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