Críticas


ARMAS NA MESA

De: JOHN MADDEN
Com: JESSICA CHASTAIN, GUGU MBATHA-RAW, MARK STRONG
02.02.2017
Por Luiz Fernando Gallego
Muito interessante para nosso momento atual de revelações sobre decisões política e empresariais nada republicanas.

Nos EUA, o lobby junto aos políticos é legal. É até mesmo uma profissão sujeita (teoricamente que seja) a regras, códigos de... hmmm... ética - e leis.

No Brasil, não. O que não quer dizer que não exista lobby entre nós - existe, bastante, e ainda mais sujeito a desregramentos muito, muito ilegais. Os fatos recentes mostram como podem ser sujos os trâmites políticos e empresariais atendendo a interesses nada republicanos.

Neste sentido, Armas na Mesa (título brasileiro em busca de um trocadilho de gosto ambíguo) pode ser particularmente catártico para nosso público. Para alguns, talvez seja consolador por mostrar que não estamos sozinhos na lama que os poderosos armam: o filme mostra como, por lá, decisões políticas com aura de “isenção” podem camuflar tremendas brigas de foices no escuro, chantagens e golpes baixos. Os mais baixos. Ou, filosoficamente, poderá soar mais desanimador: em qualquer latitude, o ser humano não falha em falhar. E como! E muito! E insaciavelmente, sempre mais!

Mas Armas na mesa, como sugere o título original, Miss Sloane, também parece ter sido criado como veículo para a atriz que faz a personagem do título, Jessica Chastain, em mais um desempenho marcante, mesmo com direito a algumas (poucas) doses de overacting , o que só é tolerado em intérpretes no estilo Bette Davis, Glenn Close e poucas mais. Afinal, o diretor John Madden já se serviu do talento da atriz em um de seus primeiros filmes, no qual a mesma personagem era interpretada na maturidade por Helen Mirren e na juventude por Jessica (A Grande Mentira/The Debt, 2010), mostrando que ela poderia vir a ser uma Helen Mirren.

Madden é um artesão bem mediano e talvez este venha a ser seu melhor filme até hoje, ainda que se ressinta de muitas reviravoltas no roteiro do iniciante Jonathan Perera. Isso pode até chegar a incomodar um pouquinho, especialmente na parte final com um tom de mensagem sobre o certo e o errado (ou o errado e o mais errado ainda; ou também: como se fazer a coisa certa sem usar caminhos errados? – o que, por sua vez, pode ser uma ambiguidade para a “moral” pretendida, fica em aberto uma discussão para o chopp depois do cinema que pode se melhor do que parte da dramaturgia). De qualquer modo, cabe ressaltar que o filme prende bastante a atenção, e não só pela onipresença dominadora da atriz. Ela está acompanhada de ótimo elenco (entre outros, a mais jovem Gugu Mbatha-Raw também se destaca, assim como os veteranos John Lithgow e Sam Waterston). A edição hábil e a fotografia climática colaboram para o resultado no que o filme tem de melhor.

No final das contas, ainda fica um recado: garotos de programa podem ser mais éticos do que políticos e lobistas.

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