Críticas


T2 TRAINSPOTTING

De: DANNY BOYLE
Com: EWAN MCGREGOR, ROBERT CARLYLE, JONNY LEE MILLER, EWEN BREMNER
07.04.2017
Por Marcelo Janot
Seria melhor ter deixado o cultuado “Trainspotting” repousar em paz na nossa memória afetiva.

É curioso notar que, nos 20 anos que se passaram entre o “Trainspotting” original e sua continuação, não foram apenas os personagens que envelheceram mal: assim como Renton, Begbie, Spud e Sick Boy, o diretor Danny Boyle também se tornou uma caricatura de si mesmo. Filmes como “Quem quer ser um milionário?” e sobretudo o abominável “127 horas” mostraram como o criativo artesão de 1996 se revelaria um escravo dos cacoetes moderninhos de direção que ressaltavam o olhar deslumbrado, voyeurístico ou piegas sobre a miséria e a dor alheia.

“T2 Trainspotting”, a continuação, ao mesmo tempo em que procura saciar os fãs do filme original com referências que vão de flashbacks a breves acordes de “Perfect Day” e “Born Slippy” na trilha sonora, por outro lado decepciona quem espera algo mais do que o mero reencontro com aqueles “adoráveis” viciados do primeiro filme. Se o primeiro filme contextualizava a opção pela aventura junkie como uma resposta conscientemente rebelde e auto-destrutiva à vida ordinária, o que mudou na vida deles – e na sociedade – nessas duas décadas?

Sabemos, por exemplo, que a cidade onde vivem sofre com a gentrificação. Mas apenas em poucos momentos “T2” reflete sobre as escolhas de vida de cada um, culpa de um roteiro preguiçoso que acaba dando mais ênfase ao desejo de vingança de Begbie após sair da cadeia. O personagem de Robert Carlyle perdeu toda a sua graça ao se tornar mera caricatura de comédia pastelão. Felizmente Ewen Bremner continua divertindo com os trejeitos de seu frágil Spud, mas a revelação de seu talento literário é pouco crível. Outro personagem mal definido e que não convence é o de Veronika, a imigrante búlgara que cumpre múltiplas funções na trama mas que no fim das contas parece um mero recurso de roteiro para que Renton, Sick Boy e Spud, através de conversas com ela, verbalizem o que for necessário para refrescar a memória do espectador sobre acontecimentos do primeiro filme.

Salvo algumas boas passagens cômicas, como o golpe praticado por Renton e Sick Boy no clube irlandês onde se celebrava a Batalha de Boyne, e a trilha sonora que mantém o padrão do primeiro filme, o que resta de “T2”, no fim das contas, é mesmo a sensação de que seria melhor ter deixado o cultuado “Trainspotting” repousar em paz na nossa memória afetiva.

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